quarta-feira, 18 de maio de 2011

Movimento Antimanicomial

Os serviços substitutivos vêm ocupando os espaços deixados pelo modelo hospitalocêntrico. Modelo este, que propondo-se a tratar e “curar” a doença, a loucura; tornou-se modelo de coação, aprisionamento, anulação, estranhamento e mortificação, de uma pessoa que num determinado instante de sua existência, experiencia o sofrimento psíquico.


Este é um momento da história em que a loucura retira-se de cena da Psiquiatria e torna-se ator principal da cena política. Deixa de ser objeto (loucura-alienação) para tornar-se sujeito (louco) em sua diversidade possível de coexistência.

Essa desapropriação do objeto surge dos questionamentos que embasavam a ciência médica e de seu fazer cotidiano, da doença mental e sua ressignificação, superando limites conceituais, técnicas, práticas e problematizando suas contradições e conflitos. As respostas a estas indagações que vieram do conhecimento, suscitavam uma decisão.

Para que possamos nos situar na problemática apresentada e as soluções tomadas, teremos que nos remeter primeiramente a História, em especial a Idade Clássica, pois é neste instante que a experiência da loucura combina-se com a prática do internamento.

Qual era a visão da loucura no século XVII, que propiciou a exclusão dos loucos e o que a fundamentava? E a Revolução Burguesa na França do Século XVIII e seu ideário civil, de que forma encontra-se com o desatino?

É nesta visão que se chega ao Brasil, com a vinda da família imperial e seu monarca vanguardista, que o primeiro manicômio é construído na corte, com todo luxo e pompa e todas as técnicas de tratamento que a ciência positivista lhe possibilitavam. A figura do alienista revestisse de todo saber empírico e do alienado todo mutismo de um ser que não é um, mas o todo.

Este silenciamento, opressão e contenção do louco permanece em nossa história da Monarquia, passando pela República e tornando insustentável a permanência desse modelo durante a Ditadura Militar Brasileira.

Neste período, em que toda uma nação se cala e as privatizações tornam-se lugar comum, os hospitais psiquiátricos transformam-se em verdadeiras Indústrias da Loucura.

De práticas anteriormente utilizadas na tentativa de humanizar o tratamento dado aos internos dos hospícios como a Psiquiatria Alternativa, ou nos anos de 1960 com inspirações da psiquiatria comunitária norte-americana e a psiquiatria de setor francesa, ainda não respondem a necessidade de melhores condições aos pacientes. São nos movimentos populares, surgidos a partir da contracultura, que novos discursos serão possibilitados.

Mas somente no final dos anos 70, inspirado pelo movimento italiano da Psiquiatria Democrática e no Brasil, com o Movimento dos Trabalhadores de Saúde Mental, a luta antimanicomial, movimentos estes precursores da Reforma Psiquiátrica, que se revelaram a dimensão política e a luta por direitos humanos.

É na desospitalização e na desinstitucionalização, ou seja, com o derrubamento tanto externos quanto internos dos muros dos manicômios, que uma nova prática pode ser realizada e a loucura destituída do poder médico, abri as portas ao louco, agora protagonista de sua própria experiência, em sua subjetividade e em sua liberdade.

E sendo o princípio da história de uma ciência a sua atualidade, há ainda muitos avanços a se realizar, relatar estas questões nos trás novos saberes. Debruçar-se sobre o conceito de loucura e seus desdobramentos sociais, nos provocam, nos inquietam, nos mobilizam.


Uma história que ainda está sendo escrita e que modificou os paradigmas de uma ciência que possuía como objeto de seu saber a loucura e o asilamento como forma de tratamento, e há o objetivo que com este conhecimento possibilite novas formas de olhar para si mesmo e para o outro diante de si, e que este compreender coloca uma imensidão ao nosso alcance.

História que é de todos nós, que encontramos com o outro, e em toda a sua diversidade, e que não procuremos igualdade, porque não há, mas que percebamos a nossa humanidade, não piedosa, mas coletiva, pois para que o rio da vida flua há de haver a outra margem.

terça-feira, 10 de maio de 2011