domingo, 10 de outubro de 2010

10 de Outubro Dia da Saúde Mental

10 de Outubro é a efeméride da Saúde Mental, mas é sempre um termo controvertido quando nos reportamos ao conceito "Saúde", pois ele já claramente subentende o seu reverso que é a doença.
Marcarmos uma data para lembrarmos e para nos ocuparmos da saúde da mente levantam várias questões, paradoxos e incongruências. O primeiro deles é a velha discussão entre normalidade X anormalidade. Sou normal? sou doente? caso seja eu o "normal", o comportamento diverso do outro é uma anormalidade? Sendo eu portador de um diagnóstico, que lugar ocupo nessa sociedade de "normais"?
Mas não é nesse raso que a discussão deve se estabelecer,mas primeiramente, na sua ponta de iceberg que é a questão do estigma, do desvio e do que diverge. Ele tem como eixo central a antiga necessidade dos seres humanos em sentirem-se iguais. A igualdade humana reside em sua espécie e não em sua experiência, esta é diversa e não possibilita normatização.
No entanto, fomos subjulgados pelo princípio da solidariedade e afeição e sua implacável ética, " o todo é maior do que a soma das partes", é nessa máxima que nasce a ciência normativa e sua promoção e preservação do bem supremo que é a saúde.
E nessa sublime arte da cura e toda moralidade imposta, que a coerção e segregação torna-se bem comum aos que se dissociam do padrão.
Elucidar somente a questão por esta ponta não dá conta de uma problemática que nos deparamos em nosso cotidiano, mas rever nosso próprio posicionamento diante destas.
Não é um descrédito na saúde, mas a necessidade que se faz de uma ética possível que comtemple a todos em seu princípio de igualdade, o respeito a diversidade e seu direito inalienável de liberdade.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Chegada da Primavera no Cândido Ferreira

A próxima quinta-feira (23/09) é um dia de festa para os usuários do Serviço Residencial Terapêutico do Serviço de Saúde Dr. Cândido Ferreira. Todos os anos os pacientes costumam comemorar a chegada da Primavera e este ano não é diferente. O já tradicional Baile da Primavera das Moradias acontece a partir das 13h desta quinta-feira no salão paroquial Padre José Gaspar e promete animar mais de 100 pessoas. O evento é gratuito e aberto a todos.

O Serviço Residencial Terapêutico é um dispositivo que substitui as longas internações psiquiátricas. Hoje, conta com uma equipe de 139 funcionários, que trabalha em 29 moradias, atendendo um público de 165 usuários, a maioria antigos moradores de hospitais psiquiátricos da região de Campinas.

O projeto de residências terapêuticas do Cândido Ferreira é uma das primeiras iniciativas deste tipo no Brasil. Em 1991, foi inaugurada sua primeira moradia. Em 1999, já havia 65 moradores. Em abril de 2001, a lei 10.216, regulamentou o processo de Reforma Psiquiátrica no país, reconhecendo os Serviços Residenciais Terapêuticos entre os mecanismos substitutivos, juntamente com os Centros de Atenção Psicosocial (Caps) e programas como o Volta pra Casa, que prevê o pagamento de uma ajuda de custo para os egressos de hospitais psiquiátricos. Neste período, o Cândido chegou ao número de 24 moradias.

Hoje o Serviço Residencial Terapêutico atende não somente egressos de hospitais psiquiátricos, mas também uma outra população que sofre com transtornos mentais graves, muitos jovens, sem nenhuma rede de articulação e sustentação.

Segue o serviço do evento. Para mais informações, entre em contato com a assessoria de comunicação: (19) 3758-8615, José Siqueira (19) 7815-2906, Régis Moreira (19) 7813-3276 e Carla Barreira (19) 7802-3487.


Baile da Primavera das Moradias
23 de setembro das 13h às 17h.
No salão paroquial Padre José Gaspar
(Av. Abolição, 3050 - Bairro: Vila Cura D'ars, Campinas - SP)
Entrada franca.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

IX COPA DA INCLUSÃO

No dia 21 de agosto foi dada a largada para a IX Copa da Inclusão no SESC Itaquera. A duração é de seis sábados, sendo que o último será no dia 2 de outubro. Durante esses dias, o Vozes da Voz esteve e estará presente fazendo a cobertura. Além dos jogos que compõe o torneio, registramos a exposição de trabalhos integrantes da Rede de Saúde Mental e Ecosol, Tai-Chi-Chuan, Mosaico, Capoeira, Psicodrama, Dança Circular, Dança, Salsa & Country e muita animação dos participantes!

Para quem não foi, ainda dá tempo! No próximo dia 21/10, sábado, os jogos seguem acompanhados da Oficina de Reciclagem do CAPS ad São Mateus, música e artesanato do CAPS ad Itaquera. E no encerramente, dia 2 de outubro, as semi finais, a final, desfile da Dasdoida e muito mais!!

Em breve soltaremos vídeos do evento e a cobertura completa estará disponível também pela ONG Sã Consciência.

Para mais informações sobre a Copa:

http://ongsaconsciencia.webnode.com.br/news/copa%20da%20inclus%C3%A3o%202010/

Aguardamos vocês por lá!

domingo, 19 de setembro de 2010

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

domingo, 12 de setembro de 2010

Saúde-doença

Por Rose Prota

Ao colocarmos em análise o processo saúde-doença no mundo capitalista, veremos que vários são os seus determinantes, e que muitos destes foram sendo abandonados ou incorporados ao longo da história como causas de enfermidades.

Inicialmente, criou-se a teoria de que as doenças eram causadas por um único fator, então percebeu-se que mesmo isolando-se este fator a doença não era totalmente combatida, passou-se então à hipótese multicausal (tripé bio-psico-social), surge então a epidemiologia social.

Hoje em dia admite-se que há grande peso da conjuntura econômico-social na determinação do processo de saúde-doença e do sistema de saúde, isto é, pessoas de classes sócio-econômicas diferentes podem ser acometidas pela mesma doença, mas sua acessibilidade ao tratamento e a própria leitura dos profissionais da saúde sobre quais sejam as necessidades reais de cada uma destas duas pessoas pode divergir fortemente, e isto não está apenas relacionado ao diagnóstico, mas pode estar contaminado também pelo grau de conhecimento e pelo modo como cada paciente relaciona-se com a equipe de saúde que o está atendendo, o que não descarta inclusive uma relação de poderes.

A complexidade de interações humanas que permeia o processo saúde-doença é um dos pontos que nos leva a problematizar a questão do arbítrio de cada um em relação a sua própria saúde ou doença. Até que ponto temos de fato tal arbítrio?

Moura Fé, psiquiatra e ex-presidente do CFM, afirma que:

“A medicina centrada no princípio da beneficência está com os dias contados. A tradicional postura de passividade em que os pacientes não vêem motivos para quaisquer preocupações, convencidos de que o médico, como detentor do conhecimento, sabe o que é melhor para eles e se empenhará a fundo para proporcioná-lo vai cedendo lugar a uma atitude mais ativa, em que os pacientes reivindicam o direito de saber e de participar das decisões acerca dos procedimentos médicos a serem adotados. A assimetria característica da relação médico-paciente tende a ser reduzida com a ampliação das informações sobre assuntos de saúde.”

Oras, se a “passividade” vem sendo substituída por maior autonomia e, se uma das ferramentas para esta mudança é o acesso à informação (que a internet vem proporcionando de forma revolucionária), permanece a questão: até onde vai o arbítrio de cada um no gerenciamento de seu próprio processo saúde-doença?

Tentemos refletir sobre esta questão com a ajuda de Gottschall, que pontua sobre um conceito conhecido no mundo científico como trindade bioética:

“A chamada trindade bioética assenta-se no tripé: autonomia (paciente, informe consentido), beneficência (médico, melhor resultado com menor risco) e justiça (sociedade, distribuição eqüitativa para iguais), o que exige constantes critérios de decisão... A autonomia do paciente não privilegia tanto o papel do médico nas decisões mas o torna parceiro do paciente no tratamento: não mais uma relação de sujeito e objeto mas de associação entre sujeitos autônomos, baseada numa sólida relação médico-paciente, mais horizontal e menos vertical.”

O conceito de autonomia é proposto aqui no sentido de emancipação, capacidade de avaliação e de tomada de decisão, de ação. O processo democrático constitui bom lócus para o fortalecimento das decisões autônomas das pessoas no campo da saúde. Paradoxalmente, cabe salientar que a autonomia é sempre relativa. Aspectos os mais variados condicionam a autonomia do indivíduo e, por conseguinte, suas ações. O direito ao acesso à informação é grande aliado de práticas autônomas, lembrando que tais práticas sempre continuarão a ser relativas a algo, sendo, portanto, práticas de campo, ou seja, que ocorrem em um dado contexto econômico-social, tendo também atuando sobre si aspectos biológicos e psíquicos.

Bibliografia:
Breilh Jaime. Epidemiologia: Economía, medicina y Política Breilh. México D.F.: Fontamara, 1988

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Dizem que sou louco

sexta-feira, 30 de julho de 2010

segunda-feira, 26 de julho de 2010

DENÚNCIA

Bira leva denúncias de maus tratos no Juliano Moreira para o Ministério da Saúde
Publicado por Lindjane Pereira em 23/07/2010 | 12h44 Atualizada em ( 23/07/2010 | 13h14 )

O vereador Ubiratan Pereira (PSB), o Bira, está levando o caso das denúncias de maus tratos e outras violências que supostamente estariam acontecendo no Complexo Psiquiátrico Juliano Moreira para o Ministério da Saúde e a Rede Nacional de Luta Antimanicomial. O parlamentar está encaminhando documentos e matérias sobre as denúncias para que as instituições acompanhem passo a passo as investigações.


Após as denúncias, o vereador Bira foi procurado por alguns ex-usuários do serviço que relataram situações de maus tratos e condições sub-humanas. Uma ex-paciente, que pediu para ter seu nome preservado, contou durante entrevista a rádio 100.5 FM que foi vítima de maus tratos e uma tentativa de estupro praticada por dois seguranças quando esteve internada no Hospital Psiquiátrico.


De acordo com Bira é importante que o Ministério da Saúde acompanhe as investigações através da Coordenação Nacional de Saúde Mental, pois os fatos denunciados contrariam os princípios da reforma psiquiátrica, que orienta a redução das internações em hospitais psiquiátricos e prevê condições mais dignas e socializadoras aos usuários internos.


Na última quarta-feira, o vereador Bira participou da inspeção realizada pela Promotoria de Defesa dos Direitos da Saúde de João Pessoa e os Conselhos Regionais de Medicina, Enfermagem, Farmácia, Psicologia e Vigilância Sanitária Municipal e Estadual. Os conselhos se comprometeram a enviar os relatórios de fiscalização até o dia 10 de agosto.


De acordo com Bira a visita foi superficial não chegando a adentrar em todos os setores do hospital psiquiátrico, mas que os conselhos se comprometeram a encaminhar o laudo da fiscalização posteriormente ao Ministério Público. Para Bira, as denúncias são graves e se tiverem procedência ferem os princípios da humanização e da reabilitação dos usuários com transtornos mentais. “É importante que haja uma investigação independente formada pelo Ministério Público, conselhos, OAB e outras instituições para apurar as denúncias e punir os possíveis culpados”.


O vereador Bira participou da elaboração da Lei da Reforma Psiquiátrica no Estado que foi apresentada pelo então deputado estadual, Ricardo Coutinho, e apresentou este ano na Câmara Municipal o projeto de Reforma Psiquiátrica na Capital. O projeto prevê a estruturação de uma rede psiquiátrica com bases na humanização e na inserção das pessoas com transtornos mentais na sociedade.

domingo, 18 de julho de 2010

Resoluções de Economia Solidária na IV Conferência Nacional de Saúde Mental – Intersetorial



A Rede de Saúde Mental e Economia Solidária realizou um amplo processo de mobilização para a II Conferência Nacional de ECOSOL, tirando 8 delegados nacionais e para a IV Conferência Nacional de Saúde Mental, tendo um stand de mais de 20 projetos/ empreendimentos de trabalho do Estado de São Paulo. Buscando garantir uma intersetorialidade fundada na autogestão dos usuários de saúde mental.

Na IV CNSM – Intersetorial o tema da Economia Solidária se firmou como a saída prioritária para o processo de inserção no trabalho dos usuários de saúde mental, tendo aparecido em diversos eixos. A Rede teve papel central nas discussões, nas defesas de propostas e na elaboração das propostas.

Segue abaixo as resoluções da IV Conferência Nacional de Saúde Mental – Intersetorial que tratam da Economia Solidária:

Eixo 1 – Políticas Sociais e Políticas de Estado: pactuar caminhos intersetoriais

- Regulamentar nos níveis municipal, estadual e federal os CECCOS como serviços da rede substitutiva em Saúde Mental, na perspectiva do trabalho centrado na heterogeneidade, na intersetorialidade e na economia solidária, garantindo assim recursos públicos (financeiro, material e humano) para o pleno funcionamento das unidades já existentes e outras a serem implantadas de acordo com índices de vulnerabilidade social e da saúde.

- criação de mecanismo de fiscalização e acompanhamento da reabilitação psicossocial dos beneficiários do Programa de Volta pra Casa e de participantes de projetos de Economia Solidária associados à saúde mental.

- articulação da área da Saúde Mental com o movimento da Economia Solidária, a fim de garantir a criação e acompanhamento de cooperativas produtivas para os usuários dos serviços de saúde mental.

- criar mecanismos efetivos que promovam a inserção dos usuários no mercado de trabalho, com definição de recursos do SUS e parcerias com outras políticas públicas, em especial as de Ecosol, Trabalho e Previdência Social.

Eixo 3 – Direitos Humanos e cidadania como desafio ético e intersetorial


Sub-eixo: Trabalho, geração de renda e Economia Solidária


- Garantir o fomento de programas de inclusão produtiva para usuários da rede de saúde mental pública, participantes de projetos ou empreendimentos coletivos de trabalho, com critérios definidos e por tempo determinado, de modo a garantir a sustentabilidade do usuário e do empreendimento produtivo.

- Garantir percentual de espaço em feiras, eventos populares e culturais para comercialização e divulgação da produção oriunda dos serviços, movimentos sociais, organizações não governamentais, associações de saúde mental e empreendimentos econômicos solidários da área da saúde mental.

- Criar Emenda Orçamentária para as oficinas de geração de renda da saúde mental e priorizar o consumo dos seus produtos pelas instituições governamentais.

- Solicitar ao Ministério da Saúde que recomende enfaticamente para que as unidades de atenção integral à saúde mental incluam em seus projetos terapêuticos mecanismos de acompanhamento dos usuários em sua inserção no mercado de trabalho, de acordo com o disposto no programa federal saúde mental e economia solidária.

- criar e implantar política de inclusão produtiva para pessoas com transtorno mental nos três níveis de governo, instituindo bolsa-trabalho para os usuários que participam de EES, definindo critérios, fixando tempo e modo de devolução com avaliações periódicas, assegurando a sustentabilidade do empreendedor e do empreendimento com escoamento das produções. Para tal, instituir fundos para bolsa de formação para o trabalho para usuários da saúde mental e seus familiares, educando e capacitando tecnicamente para o trabalho solidário.

- viabilizar incubadoras e outras iniciativas (cooperativas, sociedades e ONG’s) que capacitem as pessoas para a produção e comercialização do trabalho final, por meio de incentivos, segundo os princípios da ecosol.

- possibilitar a criação de linhas de financiamento (fundo perdido ou rotativo) para projetos e empreendimentos produtivos de usuários de saúde mental, favorecendo o acesso a recursos tecnológicos, aquisição de máquinas, equipamentos e matéria prima.

Trabalho/Geração de renda

- Implementar articulação intersetorial (assistência social, cultura, trabalho e educação), na perspectiva de fortalecer, qualificar e desenvolver projetos que garantam o direito ao trabalho, geração de renda e cidadania

- incentivar a criação de núcleos de geração de trabalho e renda com a finalidade de fomentar a produção e comercialização de bens e serviços pelos usuários da rede de saúde mental, sob os princípios da economia solidária

- regulamentar, na política nacional de saúde mental, a implantação e concretização dos projetos de geração de trabalho e renda, priorizando que as oficinas se realizem em sedes próprias, compreendendo que há diferença entre o espaço que acolhe pessoas com transtorno mental do espaço de trabalho

- garantir a implementação de programas de geração de renda, criando convênios com redes em nível nacional, para promoção das pessoas com transtornos mentais.

- implantar uma política nacional para as pessoas com transtorno mental no mercado de trabalho - implantar projetos de agricultura familiar em áreas urbanas e rural com sustentabilidade ambiental, a partir da articulação entre os Ministério da Saúde, do Desenvolvimento Agrário e das Cidades, voltados para as famílias vinculadas à rede de saúde mental.

- criar equipe de economia solidária a partir da intersetorialidade, envolvendo o Centro Regional de Assistëncia Social, Centro de Atenção Psicossocial, NASF e outros segmentos sociais do território, com objetivo de mediar e articular os projetos de trabalho e renda com a rede social, ampliando com esta estratégia a política pública de saúde mental e trabalho.

Ecosol

- viabilizar recursos públicos nos três níveis de governo (municipal, estadual e federal) para o

desenvolvimento de atividades de geração de renda e de estratégias para o escoamento de produtos,

por meio da criação de associações ou cooperativas, em parceria com o comércio justo, respeitando

os príncipios e diretrizes da economia solidária, bem como garantir que os serviços substitutivos cumpram um papel de disparadores dessa prática de inserção social.

- garantir a regularidade e a ampliação dos recursos do Governo Federal, Portaria 1169/2005, voltados para projetos de geração de trabalho e renda para pessoas com transtorno mental e que fazem uso abusivo de álcool e outras drogas.

- inserir presidíarios com transtorno mental nas discussões e na política de saúde mental e economia solidária

- introduzir na Lei 8.666 – de Licitações, cirtérios que possibilitem a participação dos EES da saúde mental e outros, no processo de compras públicas.

- fortalecer e fomentar de maneira intersetorial, cooperativas populares e iniciativas de geração de trabalho e renda, com base na ecosol, que incluam a população usuária de serviços de saúde mental e promover a criação de CECCOS, com financiamento intersetorial estinado a infraestrutura, recursos humanos e materiais para as oficinas, visando seu pleno funcionamento.

- ampliar a política de Economia Solidária/Inclusão Social no campo da saúde mental, incentivando ações que produzam autonomia e inserção do usuário, a partir do levantamento das suas demandas e potencialidades, estimulando o protagonismo.

- destinar um percentual de recursos para a implantação e implementação de projetos de geração de renda e ecosol destinados a usuários de saúde mental e desenvolvidos por associações de usuários e outras, com objetivos afins por meio de arrecadação oriundos de fundos públicos.

- estimular usuários e familiares em sua socialização, participação em eventos sócio-culturais e programas de geração de renda, baseados nos príncipios da ecosol por meio da articulação intersetorial.

- garantir espaço de comercialização nas cidades (em feiras permanentes, eventos e outros), para produtos oriundos dos EES ligados a saúde mental com divulgação na mídia.

- criar linhas de financiamento intersetorial, nos três níveis de governo (municipal, estadual e federal) para elaboração de projetos em ecosol para EES dos usuários da saúde mental.

Direito/organização política

- incentivar as associações de usuários e familiares dos serviços de saúde mental para propiciar a geração de renda e a capacitação desses usuários para confecção de produtos e prestação de serviços, respeitando as habilidades individuais, possibilitando a sua atuação no mercado de trabalho e que essas associações tenham parceria com as universidades públicas.

- garantir acessibilidade para a educação e seguridade social: Previdência, Assistência Social e Saúde para pessoas com transtornos mentais.

- Criar fóruns de discussão sobre o trabalho, economia solidária, emprego protegido e autonomia, com a participação da sociedade.

- implicar as instâncias federais competentes: Ministério Público do Trabalho, Previdência Social, Secretarias, Conselhos Profissionais e outros, no reconhecimento da mudança operada sobre o conceito de deficiência na Convenção da Organização das Nações Unidas, ratificada pelo Brasil em 2008, que coloca o foco nas barreiras atitudinais e ambientais que impedem a inclusão social na comunidade e no mercado de trabalho.

Cooperativismo Social
- propor alteração da lei de cooperativas sociais e reconhecimento dos empreendimentos sociais e de outros grupos. além disso, instituir mecanismos regulatórios, subsídios, política tributária diferentes das atuais, criando linha de financeiamento a fundo perdido ou rotativo para os projetos de empreendimentos produtivos dos cidadãos usuários dos serviços de saúde mental.
- fomentar a criação de associações, cooperativas sociais e EES da saúde mental, garantindo apoio técnico e jurídico na organização, capacitação e comercialização dos produtos desses grupos.
- promover a capacitação para o empreendedorismo, objetivando a criação de cooperativas para geração de trabalho e renda para os usuários dos serviços de saúde mental e familiares.
- garantir a seguridade social aos participantes do cooperativismo social e mecanismos de incentivos com redução de impostos.
- propor adequação e flexibilização da legislação de cooperativas que incluam indivíduos em vulnerabilidade social, prevendo investimentos intersetoriais a nível nacional, estudual e municiapl, para a sustentabilidade de projetos de inclusão social pelo trabalho, na área da saúde mental. É necessária também a elaboração de legislação específica que estimule a comercialização dos produtos e serviços relacionados à iniciativa de geração de trabalho e renda e cooperativismo com base na ecosol que incluam indivíduos em vulnerabilidade social.
- garanrtir o Benefício de Prestação Continuada (BCP) dos usuários mesmo se eles estiverem inseridos inseridos em cooperativa social.
- Garantir recursos para criação e manutenção de cooperativas sociais de trabalho para os usuários de saúde mental e álcool e outras drogas, com articulação intersetorial e financiamento tripartite.
- implementar programa nacional de cooperativismo social envolvendo ações intersetoriais, com diferentes órgãos de governo, dentro dos princípios da ecosol.

terça-feira, 13 de julho de 2010

FESTIVAL DA LOUCURA - Barbacena

Loucura, cultura e diversidade ganham palestra no 5° Festival da Loucura 2010
ENSP, publicada em 13/07/2010

De 15 a 18 de julho, um movimento de lucidez e irreverência vai tomar conta das principais ruas e praças de Barbacena (MG). O Festival da Loucura, que chega à sua quinta edição este ano, consolida-se como um dos mais importantes eventos do calendário cultural, artístico e científico mineiro. No sábado (17/7), o pesquisador do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Saúde Mental e Atenção Psicossocial (Laps/ENSP) Paulo Amarante participará do evento proferindo a palestra Loucura, cultura e diversidade: novas perspectivas de ações sociais.
O objetivo principal evento é celebrar a vida através das artes e da coexistência pacífica, aceitar as diferenças e fazer valer a cidadania plena para todos. Mais do que um evento cultural, artístico e científico, o evento pretende dizer um sonoro "não" ao preconceito, exclusão e intolerância em suas formas e origens.

Este ano, o Festival da Loucura - De perto Ninguém é Normal se divide entre programação cultural e científica, e todas as atividades são gratuitas. Dentre as atrações, destacam-se o espetáculo cênico-musical Tangos & Tragédias, o grupo de teatro de bonecos Giramundo, o romancista, dramaturgo e poeta paraibano Ariano Suassuna e o cantor e compositor Zeca Baleiro, entre outros convidados.

A programação conta ainda com as atividades tradicionais do festival: a confecção das Carteirinhas de Louco - feitas mediante um exame do grau de loucura do visitante por médicos também loucos - e a visita ao Museu da Loucura e Parada do Artesão Nato. O Salão de Arte estará aberto todos os dias das 18 às 24 horas. O cartunista Cristóvão Villela estará de plantão, a partir das 19 horas, no Buteko Trem de Doido para produzir caricaturas e retratar, de maneira divertida e inusitada, turistas e visitantes.

A quinta edição do Festival da Loucura de Barbacena é uma realização da Prefeitura de Barbacena (MG), em parceria com a Empresa de Turismo de Barbacena (Cenatur), Fundação Municipal de Cultura (Fundac) e Departamento Municipal de Saúde Pública (Demasp).


Mais informações no site do evento ou pelo telefone (32) 3332-9900 http://www.festivaldaloucura.com.br/

Programação completa do evento

15 de Julho - quinta-feira

Seminário Técnico-Científico e Cultural - Local: Hotel Senac Grogotó
9h - Apresentação de trabalhos acadêmicos
14h - Abertura oficial do Seminário Científico
15h - Palestras
Pedro Gabriel - doutor em Medicina pela USP, professor da UFRJ e coordenador nacional de Saúde Mental do Ministério da Saúde
Marta Elizabeth - mestre em Saúde Pública pela UFMG e coordenadora estadual de Saúde Mental de Minas Gerais
17h - Abertura dos trabalhos do fórum
Mesa-redonda Residências Terapêuticas: O convívio na construção da cidadania
Convidados: Adrianne Maria M. de Oliveira - assistente social, técnica de referência de residência terapêutica - Barbacena; Vanilda Erika de Souza - cuidadora de residência terapêutica; Simone Frichembruder - psicóloga do Ministério da Saúde - Porto alegre
17h - Cortejo: grupo Trupgaia e grupo de Maracatu - Praça do Rosário
Seminário Técnico-Científico e Cultural - Local: Hotel Senac Grogotó
19h - Palestra O Espírito da Lei 10.216 na visão de seu autor
Palestrante: Paulo Delgado - sociólogo, professor da UFJF, deputado federal e autor da Lei 10.216 (Lei Antimanicomial)
20h - Abertura do Buteko Trem de Doido - Fernanda Santana (Prédio da Estação)
20h - Inauguração do Salão de Arte (Prédio da Estação)
20h - Abertura da Parada do Artesão Nato (Prédio da Estação)
21h30 - Espaço Cênico - Cia Reclame (Prédio da Estação)
22h - Palco Principal - Banda Cacharrel (Praça da Estação)
23h30 - Buteko Trem de Doido - Fernanda Santana (Prédio da Estação)

16 de Julho - sexta-feira

Seminário Técnico-Científico e Cultural - Local: Hotel Senac Grogotó
9h - Mesa-redonda Centro de Convivência: a oficina como ressocialização, geração de renda e o mercado de trabalho
Convidados: Maria Beatriz Armond Couto - psicóloga, coordenadora do Centro de Convivência de Barbacena, referência técnica do Ponto de Cultura "arte em papel em sucata" e pós-graduada em recursos humanos; Rosemeire Silva - coordenadora municipal de Saúde Mental de Belo horizonte; Sílvia Maria Ferreira - membro da associação dos usuários dos Serviços de Saúde Mental de Minas Gerais e usuária da rede de Saúde Mental de Belo horizonte; Daniel Rabello - jornalista, mestrando em Comunicação Social da PUC - Minas, monitor da oficina de Comunicação dos Centros de Convivência Cézar Campos e Barreiro
13h30 - Palestra Alguns comentários sobre o crime das irmãs Papin
Palestrante: Cyro Marcos da Silva - juiz e psicanalista
14h30 - Mesa-redonda Políticas Públicas, Centro de Atenção Psicossocial e a Intersetorialidade
Convidados: Luciane fontes - mestre em Psicologia/Psicanálise pelo CES/JF e coordenadora do Caps Municipal de Barbacena; Gilmara Terra - psicóloga do Caps Municipal de Barbacena; Romina Magalhães - psicanalista, mestre em Psicanálise pela UFMG e psicóloga judicial do Núcleo Supervisor do Pai- PJ TJMG.
17h - Lançamento de livro Significação da loucura e modos de convivência social com o louco: estudo de caso na cidade de Barbacena-MG. Autoria: Izabel Christina Friche Passos e outros
18h - Espaço Cênico - Corpo de Baile do Cefec (Prédio da Estação)
19h - Buteko Trem de Doido - Banda Balaio de Gato (Prédio da Estação)
20h30 - Espaço Cênico - Teatro na Noite Tudo & Tal (Prédio da Estação)
21h30 - Buteko Trem de Doido - Banda Balaio de Gato (Prédio da Estação)
22h30 - Palco Principal - Tangos e Tragédias (Praça da Estação)
24h - Buteko Trem de Doido - Baixos em Concerto (Prédio da Estação)

17 de Julho - sábado

10h - Palestra Técnico-Científico e Cultural

Loucura, cultura e diversidade: novas perspectivas de ações sociais
Palestrante: Paulo Amarante - professor, doutor e pesquisador titular da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz - Fiocruz (Auditório do Sindicato Rural de Barbacena - Av. Bias fortes 56 - Centro)
14h - Espaço Cênico - A história do Rock, oficina com a Banda Ranier (Prédio da Estação)
14h30 - Hall da Estação - Coral Pirô Criô (Prédio da Estação)
14h30 - Atividades Circenses - Trupe Gaia (Praça da Estação)
16h - Palestra Técnico-Científico e Cultural - A loucura na Criação Literária
Convidado Especial: Ariano Suassuna (Teatro da EPCAR)
18h - Espaço Cênico - Espetáculo teatral Faces da Loucura (Prédio da Estação)
19h - VALE apresenta o espetáculo com o Teatro de Bonecos Giramundo: Um Baú de Fundo Fundo (Praça da Estação)
20h - Espaço Cênico - Espetáculo teatral Faces da Loucura (Prédio da Estação)
21h - Buteko Trem de Doido - Banda Take It Easy! (Prédio da Estação)
22h - Espaço Cênico - Teatro na Noite Tudo & Tal (Prédio da Estação)
23h - Palco Principal - Zeca Baleiro (Praça da Estação)
00h30 - Buteko Trem de Doido - Banda Take It Easy! (Prédio da Estação)

18 de Julho - Domingo

15h - Espaço Cênico - Cia Reclame (Prédio da Estação)
16h - Espaço Cênico - Corpo de Baile do CefeC (Prédio da Estação)
16h30 - Palco - Banda Sheik Loko (Praça da Estação)
17h30 - Palco - Banda Pré Pagos (Praça da Estação)
18h30 - Palco - Banda The Yellow Brick Road (Praça da Estação)
19h30 - Espaço Cênico - Espetáculo teatral Diário de um Louco (Prédio da Estação)
20h30 - Buteko Trem de Doido - Julia Possa (Prédio da Estação)
22h - Palco Principal - Banda Ranier (Praça da Estação)
23h30 - Buteko Trem de Doido - Julia Possa (Prédio da Estação)
Salão de Arte e Parada do Artesão Nato: Aberto todos os dias das 18h às 24h. Participação do Cartunista Cristóvão Villela, todos os dias, a partir das 19 horas, no Buteko Trem de Doido (Praça da Estação

quinta-feira, 3 de junho de 2010

luta antimanicomial e experiência da loucura

luta antimanicomial e experiência da loucura
Por Márcio Mariguela Psicanalista e Professor de Filosofia.
Postado por Lucio Costa em http://bocaquefala.blogspot.com/


“Numa entrevista ao jornal Corriere della Sera, em 11/set./1981, quando da morte do psicanalista Jacques Lacan, Michel Foucault afirmou: “ser psicanalista para Lacan supunha uma ruptura violenta com tudo o que tendia a fazer depender a psicanálise da psiquiatria, ou fazer dela um capítulo sofisticado da psicologia. Ele queria subtrair a psicanálise da proximidade da medicina e das instituições médicas, que considerava perigosa. Ele buscava na psicanálise não um processo de normalização dos comportamentos, mas uma teoria do sujeito”.
Lembrei-me dessa entrevista enquanto pesquisava na internet as notícias das diversas atividades realizadas em todo Brasil pelos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) no Dia Nacional de Luta Antimanicomial, celebrado na última terça-feira (18/maio). A data foi escolhida em 1987 em Bauru, São Paulo, onde ocorreu o Congresso de Trabalhadores de Serviços de Saúde Mental. As atividades serviram para chamar a atenção da sociedade para as diferentes práticas de acolhimento às pessoas abatidas pelo sofrimento psíquico. O evento merece todo o respeito e apoio num momento em que ocorrem as plenárias municipais e estaduais para escolherem os delegados que participarão, com direito a voz e voto, da IV Conferência Nacional de Saúde Mental.
No site do Ministério da Saúde, a Política Nacional de Saúde Mental, apoiada na Lei 10.216/02, é apresentada com o seguinte objetivo: “busca consolidar um modelo de atenção à saúde mental aberto e de base comunitária. Isto é, que garante a livre circulação das pessoas com transtornos mentais pelos serviços, comunidade e cidade, e oferece cuidados com base nos recursos que a comunidade oferece. Este modelo conta com uma rede de serviços e equipamentos variados, tais como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), os Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT), os Centros de Convivência e Cultura e os leitos de atenção integral (em Hospitais Gerais, nos CAPS III). O Programa de Volta para Casa, que oferece bolsas para egressos de longas internações em hospitais psiquiátricos, também faz parte desta Política”.
Os serviços de saúde pública voltado ao atendimento “de pessoas com transtornos mentais” partem de determinadas circunstâncias históricas que envolvem aspectos políticos e epistemológicos (a construção de um saber sobre a loucura). A construção de diagnóstico e o tratamento da experiência da loucura dependem de uma definição básica: a loucura é uma doença mental. O próprio conceito de “transtorno mental” para designar as pessoas abatidas pelo sofrimento psíquico já está contido nessa premissa básica. Mas desde quando a experiência da loucura foi designada como doença mental?
A criação dessa data comemorativa deu visibilidade ao Movimento da Luta Antimanicomial que, por sua vez, seguia os trilhamentos do movimento da antipsiquiatria instaurado pelos surrealistas na França e o pela Reforma Psiquiátrica, surgido na Itália nos anos 70. As condições de confinamento asilar dos manicômios psiquiátricos foram denunciadas ao longo de décadas e travou-se uma luta contínua para libertar os loucos da condição subanimal em que viviam. O Museu da Loucura em Barbacena (MG) nos dá um exemplo da situação retratando quem eram os loucos internados nos manicômios:
As práticas de internamento da loucura possuem uma história. Até 1650, a cultura ocidental foi estranhamente hospitaleira à experiência da loucura. A partir daí ocorreu brusca mudança: o mundo da loucura vai se tornar o mundo da exclusão. Por toda a Europa, a prática do internamento era uma medida de assistência social, sem vocação médica alguma. Na França, por exemplo, cada grande cidade terá seu Hospital Geral, para onde são encaminhamos os loucos, os pobres inválidos, os velhos na miséria, os mendigos, os desempregados, os usuários de ópio, os portadores de doenças venéreas e demais rebotalhos sociais. O internamento não visava ao tratamento específico dos loucos. Seu propósito, até a Revolução Francesa, era reestruturar o espaço social: fazer uma higienização das ruas e praças, recolhendo todos os desvalidos e encaminhando- os à internação no Hospital Geral. O modelo republicano implantado libertou os pobres e desvalidos do internamento, reservando o espaço apenas para os loucos: os herdeiros naturais do internamento.
Foucault em seu livro-acontecimento História da Loucura na Idade Clássica (Ed. Perspectiva) , delineou a constituição histórica da loucura como doença mental, afirmando que, antes do século 19, a experiência da loucura era bastante polimorfa, tendo sido com o advento das práticas de internamento no Hospital Geral que a categoria de doença mental começou a ser construída para diagnosticar os loucos e aplicar técnicas corretivas de tratamento: “numa época relativamente recente o Ocidente concedeu um status de doença mental à loucura e as práticas de internamento adquiriram uma nova significação tornando-se medida de caráter médico”. É nesse contexto que a psiquiatria será inventada e uma psicopatologia, construída.
A atualidade da luta antimanicomial está diretamente ligada às reivindicações por políticas públicas que possam acolher em tratamento e cuidados aqueles afetados pela experiência da loucura. Ocorre que a loucura perdeu seu diagnóstico diferencial ao ser subjulgada pela categoria de doença mental. Os protocolos e consensos na comunidade científica definem a experiência da loucura como doença mental e determinam políticas públicas de atendimento em saúde mental. Os diagnósticos da loucura, feitos com base no Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (DSM IV) e na Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID 10), dominam hegemonicamente os discursos e práticas de atenção à saúde mental e pouco contribuem para um avanço significativo no tratamento da experiência da loucura.
Como os trabalhadores do campo da saúde mental podem se desvencilhar dessa armadilha construída historicamente que captura os discursos e práticas de resistências? Como os cuidadores, que acolhem os abatidos pelo sofrimento psíquico, podem restituir a experiência da loucura como um modo de enunciação da verdade do sujeito, como um grito de desespero e demanda de amparo?”

terça-feira, 18 de maio de 2010

Seu Ribeiro criação para 18 de Maio Dia Nacional da Luta Antimanicomial

Quando uma família nota
Que um filho ou um pai
Não sabe se entra ou sai
Passa a servir de chacota
A infelicidade brota
Neste lar, sem precisão
E um mar de aflição
Sem aviso aparece
Muita gente se esquece
Que o “louco” é um cidadão.

Os entes, desesperados
Sem saber o que fazer
Tentam o “louco” convencer
A se juntar aos drogados
Que já estão internados
Por ter perdido a razão;
O “doido” grita que não
E logo o tempo escurece.
Muita gente se esquece
Que o “louco” é um cidadão.

Já o sistema de saúde
Que é publico não tem
Ambulância para ninguém
E ao pobre não ilude
Mandar tomar atitude
E a família na aflição
Chama logo um camburão
E a policia aparece
Muita gente se esquece
Que o “louco” é um cidadão.

Já depois de ser fixado
E desfeito o engano
Passa ser chamando “insano”
E ao hospital é levado
Lá depois de ser dopado
É devolvido a nação
Como sendo um doidão
Que respeito não merece.
Muita gente se esquece
Que o “louco” é um cidadão.

...
Seu Ribeiro
18 de maio, dia da Luta Antimanicomial!

sábado, 15 de maio de 2010

Moção de Repúdio ao Governo do Estado pela não convocação da Conferência de Saúde Mental

A II Conferência Estadual de ECOSOL com a presença de 400 delegados de todas as regiões do Estado, reunida nos dias 23, 24 e 25 de abril na cidade de Campinas aprovou uma Moção de Repúdio ao Governo do Estado de São Paulo, José Serra, e uma Moção de Apoio e solidariedade a todas as Conferências Municipais e Regionais e a Plenária Estadual de Saúde Mental de São Paulo, dia 22 de maio.

MOÇÃO DE REPÚDIO

A II Conferência Estadual da Economia Solidária de São Paulo repudia a posição autoritária, de pouco apreço à democracia, do Governo do Estado de São Paulo, José Serra, que não convocou a IV Conferência de Saúde Mental/Intersetorial.


MOÇÃO DE APOIO

Os delegados da II Conferência Estadual da Economia Solidária do Estado de São Paulo declaram apoio a todas as Conferências Municipais e Regionais da IV Conferência de Saúde Mental/Intersetorial, como também, a Plenária Estadual de Saúde Mental que se realizará, no dia 22 de Maio.

(Fonte: Observatório de Saúde Mental)

18 de Maio Embu

A Saúde Mental de Embu das Artes tem se destacado no protagonismo de seus usuários e nas atividades desenvolvidas na cidade, fortalecendo a Reforma Psiquiátrica Antimanicomial. A nossa II Feira de Saúde Mental e ECOSOL, a maior delegação de São Paulo para a Marcha de Usuários e a representante (Marlene) que entregou a pauta de reivindicações ao Prof. Paul Singer é de Embu das Artes. Isso sem falar, que a saúde mental de Embu das Artes elegeu uma delegada nacional para a II Conferência Nacional de Economia Solidária.

Convidamos a todos e todas que acompanham a Rede de Saúde Mental e Economia Solidária a participar da Semana da Luta Antimanicomial de Embu das Artes – fortalecendo o SUS e a Reforma Psiquiátrica brasileira.

DIA 18 DE MAIO DIA DA LUTA ANTIMANICOMIAL

O que é Luta Antimanicomial? O que é Saúde Mental? O que é Saúde? Qual a sua relação com a Qualidade de Vida das pessoas? Há mais de 20 anos os movimentos sociais buscam respostas para estas questões iniciando um movimento de amplitude nacional: a REFORMA PSIQUIÁTRICA. Desde então, ações sociais e políticas têm acontecido para modificar o modo de atendimento na Saúde, centrado historicamente no hospital e na doença, para uma atenção integral das pessoas e promoção de saúde no local onde vivem. Isto ampliou as discussões sobre a Saúde Mental, envolvendo usuários, familiares, profissionais e comunidade em todas as questões ligadas ao ser humano: trabalho, saúde, lazer, educação e cultura. A existência de hospitais psiquiátricos e práticas manicomiais impõe um suposto modelo de normalidade e exclui a pessoa diferente. E assim, elimina seus direitos e anula a sua condição de ser humano. Embu das Artes investe na articulação de redes dentro e fora de seu município que confere notoriedade nacional em relação à luta pela reforma psiquiátrica. A Saúde Mental trabalha constantemente no intuito de criar espaços para reflexão a respeito deste tema e na semana da Luta Antimanicomial não será diferente. Estaremos realizando mesas de debate, apresentação de filme, atividades culturais, de esporte e de lazer em nossas comunidades. Faça parte deste movimento e venha contribuir, tirar suas dúvidas, dar suas sugestões e debater conosco!

PROGRAMAÇÃO DA SEMANA DA LUTA ANTIMANICOMIAL

Dia 18 de maio – terça-feira

9:00h - Abertura

9:30h - Filme “O Alienista”

10:30h - Mesa Redonda para discussão do filme na perspectiva da Saúde Mental

12:00h - Almoço

13:00h – “Expresse sua loucura” (Exposição dos trabalhos realizados pelos grupos da Atenção Básica, Microfonia Aberta, Painel livre para expressão)

Dia 19 de maio – quarta-feira

10:00h – Parada do Orgulho Louco, com saída da Prefeitura Municipal de Embu até o Parque Francisco Rizzo

– Apresentação da banda Orquestra Jovem da Associação dos Moradores do Jardim Nova República

– Desfile das Dasdoidas

Local: Parque Francisco Rizzo

14h – “Pratique Saúde Mental”, atividades nas comunidades

Local: Academia Pública – Independência

Atividade: Circuito de Ginástica

Ministrada por: Professores Bermá e o ACS Elton (esporte)

Local: Salão da Igreja Matriz SÃO JUDAS TADEU – Pinheirinho

Atividade: capoeira

Ministrada por: Mestre Paraíba (esporte)

Dia 20 de maio – quinta-feira

9:00h – “Pratique Saúde Mental”, atividades nas comunidades

Local: Feira Livre – Santa Tereza

Atividade: Orientação sobre coleta seletiva, cadastramentos, conversas sobre ambientes saudáveis, orientações sobre os programas da Secretaria do Meio Ambiente. Distribuição de Mudas e coleta com os feirantes de material orgânico (separação de sementes) que serão replantadas no Viveiro do Parque.

Ministrada por: Secretaria do Meio Ambiente (DEA e Viveiro do Parque Rizzo)

Local: Associação – São Marcos

Atividade: Dança terapêutica

Ministrada por: Camila (enfermagem)

Local: ONG – Projeto Zara – Vista Alegre

Atividade: Início da elaboração de uma Obra – Montagem de Painel

Ministrada por: Wanderley Ciuffi (artesão)

14h – “Pratique Saúde Mental”, atividades nas comunidades

Local: ONG – Projeto Zara – Vista Alegre

Atividade: Continuidade e finalização da elaboração de uma Obra – Montagem de Painel

Ministrada por: Wanderley Ciuffi (artesão)

Local: Labirosca Bar – Ressaca

Atividade: Atividade Física

Ministrada por: André (esporte)

Local: Largo dos Jesuítas – Centro

Atividade: Intervenção Teatral

Ministrada por: Jane Salazar (artes cênicas)

18 de Maio na UVA

O Curso de Psicologia da Universidade Veiga de Almeida está organizando um
evento comemorativo da Luta Antimanicomial no dia 18 de maio, e gostaríamos
de convidá-lo, bem como às pessoas envolvidas neste processo:
profissionais, usuários, familares. Paralelo à programação, que segue em
anexo, estamos programando uma exposição de trabalhos artísticos de
usuários, produzidos nos Capes ou nas oficinas terapêuticas. Os trabalhos
serão expostos no saguão do auditório principal, de forma a envolver toda
a universidade com o debate.
Para saber mais sobre o evento acesse o link abaixo ou o cartaz que segue
em anexo.



http://www.uva.br/znewsletter/2010/luta_antimanicomial.html

Passeata Maluco Beleza

O Fórum Goiano de Saúde Mental convoca todos para a “Passeata Maluco Beleza”, em comemoração ao Dia Nacional de Luta Antimanicomial, 18 de maio. Além da passeata, outras atividades acontecerão no dia.(Observatório de Saúde Mental)

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Inauguração da Residência Terapeutica Feminina

Nada melhor do que termos incluso dentro da programação do 18 de maio, a noticia da inauguração de uma nova Residência Terapêntica no pais, com objetivo da criação ou expansão de uma rede de atenção Psicossocial, no respectivo municipio.
Importante passo este voltado ao fortalecimento e na implantação da politica de saude mental e do SUS num Municipio, que não deixa de ser fruto também da participação da comunidade, neste processo de construção, e de luta pela efetivação da Reforma Psiquiatrica Antimanicomial, e pela defesa da lei nº 10.216/01.
Lembrando também que cada CAPS ou Residencia Terapeutica, construido no pais, propriciando assim a inserção social, a garantia aos direitos e cidadania, tratamento digno e humano acompanhado por multiplos profissionais, para uma pessoa com transtorno mental, estará sendo visto, que a gestão local daquela respectiva cidade, não apenas consta no seu projeto de governo, melhorias para a Saúde Mental, mas sim que chega cumprir com aquele compromisso assumido, que lamentavelmente muitas vezes em algumas cidades, não sai do papel.

TORTURA, PORQUE NÃO?

Estado de S.Paulo 01/05/2010
O motoboy Eduardo Pinheiro dos Santos nasceu um ano depois da promulgação da lei da Anistia no Brasil, de 1979. Aos 30 anos, talvez sem conhecer o fato de que aqui, a redemocratização custou à sociedade o preço do perdão aos agentes do Estado que torturaram, assassinaram e fizeram desaparecer os corpos de opositores da ditadura, Pinheiro foi espancado seguidas vezes, até a morte, por um grupo de 12 policiais militares com os quais teve o azar de se desentender a respeito do singelo furto de uma bicicleta. Treze dias depois do crime, a mãe do rapaz recebeu um pedido de desculpas assinado pelo comandante-geral da PM. Disse então aos jornais que perdoa os assassinos de seu filho. Perdoa antes do julgamento. Perdoa porque tem bom coração. O assassinato de Pinheiro é mais uma prova trágica de que os crimes silenciados ao longo da história de um país tendem a se repetir. Em infeliz conluio com a passividade, perdão, bondade, geral.
Encararemos os fatos: a sociedade brasileira não está nem aí para a tortura cometida no País, tanto faz se no passado ou no presente. Pouca gente se manifestou a favor da iniciativa das famílias Teles e Merlino, que tentam condenar o coronel Ustra, reconhecido torturador de seus familiares e de outros opositores do regime militar. Em 2008, quando o ministro da Justiça Tarso Genro e o secretário de Direitos Humanos Paulo Vannuchi propuseram que se reabrisse no Brasil o debate a respeito da (não) punição aos agentes da repressão que torturaram prisioneiros durante a ditadura, as cartas de leitores nos principais jornais do País foram, na maioria, assustadoras: os que queriam apurar os crimes foram acusados de ressentidos, vingativos, passadistas. A culpa pela ferocidade da repressão recaiu sobre as vítimas. A retórica autoritária ressurgiu com a força do retorno do recalcado: quem não deve não teme; quem tomou, mereceu, etc. A depender de alguns compatriotas, estaria instaurada a punição preventiva no País. Julgamento sumário e pena de morte para quem, no futuro, faria do Brasil um país comunista. Faltou completar a apologia dos crimes de Estado dizendo que os torturadores eram bravos agentes da Lei em defesa da – democracia. Replico os argumentos de civis, leitores de jornais. A reação militar, é claro, foi ainda pior. “Que medo vocês (eles) têm de nós.”
No dia em que escrevo, o ministro Eros Graus votou contra a proposta da OAB, de revisão da Lei da Anistia no que toca à impunidade dos torturadores. Para o relator do STF, a lei não deve ser revista. Os torturadores não serão julgados. O argumento de que a nossa anistia foi “bilateral” omite a grotesca desproporção entre as forças que lutavam contra a ditadura (inclusive os que escolheram a via da luta armada) e o aparato repressivo dos governos militares. Os prisioneiros torturados não foram mortos em combate. O ministro, assim como a Advocacia Geral da União e os principais candidatos à Presidência da República sabem que a tortura é crime contra a humanidade, não anistiável pela nossa lei de 1979. Mas somos um povo tão bom. Não levamos as coisas a ferro e fogo como nossos vizinhos argentinos, chilenos, uruguaios. Fomos o único país, entre as ferozes ditaduras latino-americanas dos anos 60 e 70, que não julgou seus generais nem seus torturadores. Aqui morrem todos de pijamas em apartamentos de frente para o mar, com a consciência do dever cumprido. A pesquisadora norte-americana Kathrin Sikking revelou que no Brasil, à diferença de outros países da América latina, a polícia mata mais hoje, em plena democracia, do que no período militar. Mata porque pode matar. Mata porque nós continuamos a dizer tudo bem.
Pouca gente se dá conta de que a tortura consentida, por baixo do pano, durante a ditadura militar é a mesma a que assistimos hoje, passivos e horrorizados. Doença grave, doença crônica contra a qual a democracia só conseguiu imunizar os filhos da classe média e alta, nunca os filhos dos pobres. Um traço muito persistente de nossa cultura, dizem os conformados. Preço a pagar pelas vantagens da cordialidade brasileira. “Sabe, no fundo eu sou um sentimental (…). Mesmo quando minhas mãos estão ocupadas em torturar, esganar, trucidar/ Meu coração fecha os olhos e sinceramente, chora.” (Chico Buarque e Ruy Guerra).
Pouca gente parece perceber que a violência policial prosseguiu e cresceu no País porque nós consentimos – desde que só vitime os sem-cidadania, digo: os pobres. O Brasil é passadista, sim. Não por culpa dos poucos que ainda lutam para terminar de vez com as mazelas herdadas de 21 anos de ditadura militar. É passadista porque teme romper com seu passado. A complacência e o descaso com a política nos impedem de seguir frente. Em frente. Livres das irregularidades, dos abusos e da conivência silenciosa com a parcela ilegal e criminosa que ainda toleramos, dentro do nosso Estado frouxamente democratizado
Fonte MNLA

Vozes da Voz

Pessoal,

Na próxima quarta-feira, 12, o documentário Vozes da Voz será exibido no Centro Acadêmico da PUC

Prêmio João Ferrador

Personalidades e entidades são escolhidas. Vote pela internet


A comissão organizadora escolheu as três entidades e as três personalidades que disputarão o 2º Prêmio João Ferrador de Promoção da Cidadania.
Os ganhadores serão escolhidos pela categoria em votação direta pela página do Sindicato na internet www.smabc.org. br) e por meio de cédulas em algumas fábricas (leia abaixo).
A cerimônia de entrega do prêmio será realizada no próximo dia 12 de maio, data do 51º aniversário de fundação do Sindicato, a partir das 18h, na Sede.
A luta contra os manicômios e pela inserção das pessoas com doença mental na vida cotidiana ganha cada vez mais destaque no País.
Entre os indicados
Categoria Entidades:
O Movimento Nacional da Luta Antimanicomial surgiu para se
contrapor à forma tradicional de tratar a loucura, caracterizada pelo asilamento e pela violência. Pela
terapia tradicional, o portador de transtorno mental internado numa instituição psiquiátrica é alguém sem direitos, submetido ao poder da instituição e de quem o afastou e o excluiu.
Vote:



http://www.smabc.org.br/portal/joaoferrador.asp

Associação Fenix

PALESTRA :

"TRANSTORNO ESQUIZOAFETIVO: o que é ?


Palestrantre- Dra. Maria do Carmo Breda Sartolli
Médica Psiquiatra assistente ddo IPQ-FMUSP
Instituto de Psiquiatria - Faculdade da USP


Dia : 27 de maio (quinta-feira )
Horário : 20hs
Local : Praça Santa Rita de Cássia, N.º 133 – Mirandópolis - São Paulo
Ref.: Estação Praça da Árvore do Metrô / Rua das Rosas
Entrada da sala pela Av. Sen. Casemiro da Rocha, 599
na lateral da Igreja Santa Rita de Cássia.

Entrada - 1 quilo de alimento não perecível.

Conferência São Paulo

conferenciaAlguns ja tem recebido o convite da CMS e comissao organizadora paraConf mun de SP. Sera agora, dias 10, 11 e 12 no auditorio ELis Reginano anhembi (Av. Olavo Fontoura 1.209, Santana, São Paulo).Os delegados e observadores ja estao previamente inscritos. alguns jase manifestaram contra isso, e irao ate o local, fazer presença etentar mudar essa decisao, e assim poder participar programaçao1º dia: 10/05/2010 (segunda-feira) – Abertura e Credenciamento17h às 19h – Credenciamento19h- Solenidade de Abertura – Conferencia Magna20h – Leitura e Aprovação do Regulamento.21h – Confraternização.2º dia: 11/05/2010 (terça-feira) – Palestras e Oficinas Temáticas8h às 11 h – Credenciamento8h às 9h Café e Atividade Cultural9h às 10h30minh – Palestras – Mesa Redonda sobre os três eixos temáticos10h30minh às 12h – Intervenções e Debates12h às 13h – Almoço13h às 15h30minh – Grupos de Trabalho15:30h às 16h - Café/Atividade Cultural16h às 17h30minh- Elaboração de Propostas3º dia: 12/05/2010 (quarta-feira) – Plenária Final8h às 08h30minh Café08h30minh às 12h30minh – Apresentação e Aprovação de Propostas dos Grupos12h30minh às 14 h – Almoço.14h – Homologação dos Delegados Eleitos para a Conferencia Estadual deSaúde Mental e Encerramento

sábado, 10 de abril de 2010

II CONGRESSO BRASILEIRO DE SAÚDE MENTAL - ABRASME, de 03 a 05 de junho de 2010, Rio de Janeiro -

Literatura

De Dostoievski a Sylvia Plath, passando por Virginia Woolf, Lord Byron, Emily Dickison e Hemingway, a conexão entre criação literária e doença mental já foi explorada ad nauseam por analistas para que novos autores repitam velhas e românticas teorias que identificam a patologia como atributo divino. Em busca de uma resposta para seu sofrimento e de seus familiares, dois escritores norte americanos envolvidos com o tema escreveram livros que são best sellers nos EUA. São eles o crítico literário Michael Greenberg e o compositor Allen Shawn, autores respectivamente, de À Espera do Sol e Bem Que Eu Queria Ir. No primeiro, Michael Greenberg expõe as dificuldades dos portadores de distúrbio bipolar por meio da história da filha, que teve um surto aos 15 anos. No segundo livro, Allen Shawn relata a própria história, a de um fóbico, que tem medo de altura, de elevador, de estradas, de espaços públicos e lugares fechados.
Antonio Gonçalves Filho

Resposta a Cotardo Calligaris

Ficamos todos tão sensibilizados com o que aconteceu a Glauco e Raoni, realmente crimes brutais como este sempre nos levam a questionamentos de qual mundo é este em que estamos vivendo e procurarmos soluções paliativas como a internação do executor. Sentimo-nos de mãos atadas, excluir não é mais a solução, retroceder a reforma psiquiátrica já não é nem deve ser possível, ela trouxe dignidade a tantas pessoas e não podemos negá-la. Mas o que fazer com os Cadus que vemos a todo instante, eles escorregam em sua sociopatia, a psiquiatria não consegue dar conta deles no aspecto preventivo e os de seu convívio próximo se assustam com a barbárie cometida, uma vez que mostram-se em geral, doces, gentis e sociáveis. Não são fruto da degenerescencia social, então não podemos culpar os indivíduos enquanto sociedade, a família ou mesmo a inclusão social vislumbrada a partir da reforma psiquiátrica. Como profissionais de saúde mental, temos que saber que estamos sim sem respostas, e não é pelo viés da culpa ou na responsabilização no outro (instituições) que compreenderemos estas questões.

Assembléia lança Frente Parlamentar de Apoio á Luta Antimanicomial

Foi lançada quinta-feira, dia 18 de março, na Assembléia Legislativa de São Paulo, a Frente Parlamentar de Apoio à Luta Antimanicomial, criada por projeto de resolução do deputado estadual Fausto Figueira (PT) com o intuito de propor medidas que contribuam para fortalecer e ampliar o serviço de atendimento da saúde mental, buscando ao mesmo tempo alternativas de tratamento e integração do paciente à sociedade e à família.O evento, às 14h, foi aberto por Fausto Figueira e pelos deputados Ana do Carmo, Simão Pedro, Vanderlei Siraque e Vicente Cândido, todos do PT e também coordenadores da Frente. Às 15h30 está agendado a apresentação da grife DASDOIDA, que fará um desfile performático, com música, arte digital, literatura, cinema e moda.Às 16h está programado debate sobre a “Reforma Psiquiátrica e as novas Tecnologias Psicosociais”, com a participação do coordenador nacional da Saúde Mental, Pedro Gabriel; do secretário estadual de Saúde, Luiz Roberto Barradas; do secretário municipal de Saúde de São Paulo, Januário Montone; dos representantes dos sindicatos de psicólogos, Rogério Gianini, e do Conselho Regional de Psicologia, Marilena Proença de Souza. Como mediadora, a psiquiatra e coordenadora da DASDOIDA, Júlia Catunda.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Justiça condena envolvidos do caso Damião Ximenes

“Por unanimidade, a 2ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará (TJCE) condenou a Casa de Repouso Guararapes, de Sobral, o médico Francisco Ivo de Vasconcelos e o diretor clínico, Sérgio Antunes Ferreira Gomes a pagar R$ 150 mil em indenização à A.V.L., mãe de Damião Ximenes Lopes, paciente morto nas dependências da instituição em outubro de 1999. A decisão mantém a sentença proferida pelo Juízo da 5ª Vara da Comarca de Sobral, que havia julgado, em 2008, procedente o pedido de indenização por danos morais.


De acordo com os autos, A.V.L., mãe de Damião, internou o filho na Casa de Repouso no dia 1º de outubro de 1999, com perfeita integridade física. Ao retornar, quatro dias depois para visitá-lo, foi informada de que não poderia vê-lo. Inconformada, passou a chamá-lo em voz alta pelo nome. Em seguida, Damião atendeu aos chamados da mãe e surgiu em estado degradante: com as mãos amarradas para trás, defecado, urinado em suas vestes, sangrando no rosto e aos prantos gritando “polícia, polícia”.

Ainda de acordo com os relatos da mãe, ao comprar um refrigerante, Damião o ingeriu de maneira desesperada, o que a levou a crer que não lhe davam água há bastante tempo.

Aflita com a situação, chamou o médico plantonista da instituição, Francisco Ivo de Vasconcelos que, de maneira desrespeitosa respondeu: “deixa morrer, pois quem nasce é para morrer” e “pára de chorar que eu não gosto de choro, pois não assisto novela porque novela tem choro”.

A.V.L. alega ainda que o médico prescreveu medicamento a Damião sem sequer examiná-lo e que, em seguida, dois enfermeiros o conduziram ao banho, não permitindo que ela o acompanhasse. Logo depois, segundo relatos da mãe, ela encontrou Damião jogado ao chão, despido e ainda de mãos atadas.

Sem nada poder fazer, retornou à casa de sua família, na cidade de Varjota, em busca de ajuda. Lá recebeu ligação da Casa de Repouso Guararapes, solicitando sua presença urgentemente. Ao chegar, soube do falecimento do filho.

Ao contestar os fatos, a instituição disse que a responsabilidade do caso era da mãe, que “abandonou à própria sorte Damião, visitando-o somente quatro dias depois”. Já Sérgio Antunes Ferreira Gomes, diretor do local e Francisco Ivo de Vasconcelos, médico plantonista, disseram que a ação era improcedente. Ambos alegaram que nada tinham a ver com a morte do paciente.

Nos autos, consta, ainda, cópia do relatório da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, que resultou na recomendação ao Estado brasileiro de realizar investigação completa e imparcial dos fatos, bem como reparar a família de Damião com indenização. Em 2006, a mesma Comissão proferiu sentença onde declarou a violação do Estado brasileiro aos direitos à vida e a integridade pessoal de Damião”.
Fonte: Tribunal de Justiça do Ceará

IV Conferência

As Conferências de Saúde são fundamentais para a construção democrática das políticas públicas do Sistema Único de Saúde. A Saúde Mental já realizou três conferências setoriais, que produziram importantes deliberações que têm subsidiado a Política Nacional de Saúde Mental.

A primeira conferência foi realizada em 1987, no esteio da VIII Conferência de Saúde (1986), marco histórico na construção do SUS. A segunda, ocorrida em 1992, foi inspirada em outro marco histórico para o campo da saúde mental, a Conferência de Caracas (1990), que em reunião dos países da região, definiu os princípios para a Reestruturação da Assistência Psiquiátrica nas Américas. Já a terceira conferência aconteceu em 2001, ano em que foi aprovada a Lei 10.216, que trata dos direitos das pessoas com transtornos mentais e reorienta o modelo assistencial em saúde mental, na direção de um modelo comunitário de atenção integral. A III Conferência teve especial importância para impulsionar a Política Nacional de Saúde Mental, sobretudo com o respaldo da lei federal.

Nestes quase 10 anos do processo de Reforma Psiquiátrica sob vigência da lei, o SUS ampliou significativamente a rede de serviços extra-hospitalares e reduziu leitos em hospitais psiquiátricos com baixa qualidade assistencial, lugar de constantes violações de direitos humanos.

No Governo Lula, estas mudanças foram intensificadas e o cenário da atenção em saúde mental no país teve mudanças radicais: em 2002 havia 424 Centros de Atenção Psicossocial, que representavam cobertura de 22% da população, e atualmente são 1467 serviços, com 60% de cobertura assistencial. Neste período foi criado, por lei federal, o Programa de Volta para Casa, para egressos de longas internações psiquiátricas. Hoje são 3.445 beneficiários, que recebem o auxílio-reabilitação psicossocial de R$ 420,00. Além disto, há inúmeras outras ações e serviços de atenção em saúde mental: ações de saúde mental na Estratégia Saúde da Família, 860 ambulatórios, 2.600 leitos em hospitais gerais, 550 residências terapêuticas, 393 experiências de geração de renda (projeto Saúde Mental e Economia Solitária, que beneficia cerca de 6.000 usuários), 51 centros de convivência, entre outros. O governo federal criou também a Política de Atenção Integral a Usuários de Álcool e outras Drogas.


Neste cenário, a intersetorialidade é um dos principais desafios colocados à atenção em saúde mental. Com a consolidação da reorientação do modelo assistencial, a necessidade de ampliação da garantia de direitos das pessoas com transtornos mentais e a intensa discussão da cidadania como princípio ético das políticas voltadas para este campo, é fundamental a articulação de diversas políticas sociais. A Saúde Mental tem destacado como parceiros privilegiados a Secretaria Especial de Direitos Humanos, o Ministério do Desenvolvimento Social, o Ministério da Justiça, o Ministério da Cultura, o Ministério da Educação e o Ministério do Trabalho.


Fonte: Ministério da Saúde

sábado, 3 de abril de 2010

O Mito de Procusto

Procusto, conhecido também, como “Damastes” e “Polipêmon”, é uma figura da mitologia grega.
Vivia como bandoleiro, como um salteador, na estrada que ligava Mégara a Atenas e, na altura do caminho em que se instalava, julgava quem poderia fazer a travessia. Para que tal julgamento pudesse ser realizado, dispunha de dois leitos de ferro, um grande e um pequeno.
Quando aprisionava os viajantes, fazia deitarem os pequenos no leito grande e os altos no leito menor. E para que chegassem a servir no leito, cortava os pés dos que ultrapassavam a cama pequena ou alongava violentamente as pernas dos que não atingissem o comprimento do leito maior.
Daí, Procusto significar “o estirador”, em alusão ao castigo que aplicava às suas vítimas.
Um ponto a ser destacado neste mito, se refere à morte do gigante “Polipêmon” e à forma com que se deu a mesma. Teseu, filho de Egeu e Etra, é um herói da mitologia grega que, por sua vez, destaca-se por sua valentia, desde a infância e por ser, assim, um destruidor de monstros. Próximo de chegar a Atenas, especificamente em Elêusis (cidade da Grécia Antiga), Teseu foi recebido por um estranho anfitrião: Procusto, que tinha a mania de deitar seus convidados num leito a cujo tamanho os adaptava.
Advertido sobre esta prática cruel, Teseu ficou alerta. Deixou o bandido se aproximar, agarrou-o e pôs fim às suas atrocidades: o herói, com seus dezesseis anos, executou-o,cortando o que lhe sobrava para que se ajustasse ao tamanho do leito tristemente célebre .
Procusto foi morto, então, através do mesmo suplício, aplicado pelo herói ateniense.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Menina é “esquecida” no Pinel por 4 anos
março 21, 2010 por vozesdavoz


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A menina 23225 –é assim que ela está registrada nos prontuários médicos– foi internada aos 11 anos no Hospital Psiquiátrico Pinel. “Inteligente, agressiva, indisciplinada, sem respeito, fria e calculista”, escreveram dela os que a levaram à instituição-símbolo da doença mental de São Paulo. //
Psiquiatras, enfermeiros e psicólogos do Pinel logo viram que o caso de 23225 dispensava internação. Deram-lhe alta. Mas, como a garotinha não tem quem a queira por perto, já são mais de 1.500 dias, ou 4 anos e três meses esquecida dentro da instituição de tipo manicomial.

A menina não é psicótica ou esquizóide; não é do tipo que ouve vozes ou vê o que não existe. Uma médica do hospital resumiu assim o problema: “O mal dela é abandono”.

Em termos técnicos, 23225 foi catalogada no Código Internacional de Doenças como sendo F91, que designa transtorno de conduta –desde agressividade até atitudes desafiantes e de oposição.

Miudinha, cabelos cacheados, 23225 tinha apenas quatro anos quando a avó colocou-a em um abrigo para crianças de famílias desestruturadas. O ciúme, diz a mulher, vai acabar com ela. Era só 23225 ver outra criança recebendo carinho e armava uma cena. Jogava-se no chão, chorava. Virou “difícil”.

BUQUÊ NO CHÃO

Até os sete anos, a menina não conhecia a mãe, que cumpria pena por roubo e tráfico de drogas. A mulher é usuária de crack. Reincidente, enfrenta agora outra temporada de sete anos atrás das grades.

O primeiro encontro das duas foi um desastre. Uma saía da Penitenciária Feminina, a outra a esperava, vestidinho branco, e um buquê de flores para entregar. A mulher xingou a filha e o buquê ficou no chão.

No dia 8 de novembro de 2005, o abrigo conseguiu que um juiz internasse 23225 na Clínica de Infância e Adolescência do Pinel, voltada para quadros psiquiátricos agudos. Os atendimentos duram no máximo 18 dias e o paciente é logo reenviado para seu convívio normal. Se cada 18 dias contassem como uma internação, a menina 23225 já teria sido internada 86 vezes.

DEITADA NA RUA

“Essa internação contraria toda e qualquer política atual de saúde mental, além de provocar danos irreversíveis, já que [a menina] vivencia cotidianamente a realidade de uma enfermaria psiquiátrica para casos agudos e é privada de viver em sociedade e de frequentar a escola”, relatou o diretor do Pinel, psiquiatra Eduardo Augusto Guidolin, em 8 de março de 2007.

À Folha, a avó da menina, evangélica da igreja Deus é Amor, disse que acaba de conseguir um emprego com carteira assinada –serviços gerais, R$ 480 por mês. “Não vou pôr a perder por causa dela”.

Certa vez, em fuga do Pinel, 23225 deitou-se no meio da rua em que mora a avó –queria morrer atropelada: “Eu tinha acabado de dizer que aqui ela não podia ficar”.

O diretor do Pinel pediu a todos os santos dos abrigos: à Associação Aliança de Misericórdia, Parque Taipas, à Associação Lar São Francisco na Providência de Deus, ao Instituto de Amparo à Criança Asas Brancas, de Taboão da Serra, ao Abrigo Irmãos Genésio Dalmônico, ao Abrigo Bete Saider, em Pirituba, à Associação Santa Terezinha, ao Abrigo Amen-4, entre outros, que arrumassem uma vaga para 23225 viver. A menina moraria no abrigo, poderia frequentar uma escola, e receberia atendimento psiquiátrico ambulatorial em um Centro de Atendimento Psicossocial mantido pela Secretaria Municipal de Saúde.

Não deu certo. Ou os abrigos alegavam não ter vagas, ou diziam não ter vagas para alguém com o “histórico Pinel”. Em duas oportunidades, dois abrigos concordaram em acolher a menina. Ela quis voltar para o hospital. Outras tentativas precisariam ser feitas.

PROTESTOS

O médico Guilherme Spadini dos Santos, então coordenador do Napa (Núcleo de Atenção Psiquiátrica ao Adolescente), do Pinel, escreveu ainda em 2005, em um relatório: “O isolamento social é extremamente prejudicial aos quadros de transtorno de conduta. O hospital psiquiátrico não é local para tratamento de longa duração. A paciente precisa ser encaminhada para serviço ambulatorial especializado para continuar seu tratamento e para que se promova sua reinserção na sociedade”.

Em 18 de dezembro de 2006, o diretor do Pinel informava que a menina já se encontrava em alta médica havia vários meses, permanecendo na instituição por ordem judicial. “Essa situação permanece porque a Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social não consegue nos indicar um abrigo para onde se possa encaminhá-la. [A menina] está sendo privada de uma vida social e educacional a que tem direito, conforme o Estatuto da Criança e do Adolescente.”

Em 10 de novembro de 2009, Guidolin endereçou ao procurador regional dos direitos do cidadão do Ministério Público Federal, um ofício em que manifesta “indignação desta equipe técnica que por diversas vezes acionou o Judiciário solicitando a desinternação desses adolescentes que na ocasião precisavam apenas de um abrigo para moradia e dar continuidade a seu atendimento médico ambulatorial. Cabe à Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social definir o local de abrigamento.”

OUTRAS CRIANÇAS

No mesmo texto, o diretor dizia haver outras crianças “nessa mesma situação”.

Em 6 de agosto de 2008, o Pinel enviou ao Judiciário pedido de desinternação de 23225, e de dois outros adolescentes: L. (internado por ordem judicial em 3/2/2005, alta no mesmo ano) e A.C. (internada em 17/ 8/2007, em alta desde 12/11/ 2007).

Segundo funcionários do Pinel, até a última sexta-feira, apenas a adolescente 23255 seguia internada. Agora, a secretaria diz ter encontrado uma vaga para a menina.

Os nomes de 23255 e seus parentes foram suprimidos dessa reportagem, assim como quaisquer referências que permitam identificá-la, em atenção ao que estabelece o Estatuto da Criança e do Adolescente.

Outro lado

“Faltam equipamentos do Estado para acolher e fazer o tratamento de pessoas com comprometimento psíquico”, disse o Reinaldo Cintra Torres de Carvalho, juiz da Vara da Infância e da Juventude do Foro da Lapa, que cuida do caso da menina 23225. De acordo com o juiz, ela não tem condições de permanecer em abrigo com outras crianças, sem acompanhamento especial de um cuidador constante. “Quando está em crise violenta, não há como contê-la”, disse.

“Já tentamos dois abrigos e o resultado foi muito ruim. Ela quebrou coisas, machucou a si e a outras pessoas. Por isso, foi mandada de volta para o Pinel, onde recebe tratamento segundo as possibilidades do Estado. Nas atuais circunstâncias, o Pinel é o melhor lugar para ela.”

Sobre a negativa dos abrigos em receber a menina, o juiz afirmou: “Ninguém a aceita pelo histórico dela”.

Ele concorda que toda a situação configura um desrespeito em relação ao Estatuto da Criança e Adolescente, “mas enquanto não houver os equipamentos ou outro lugar, ela tem de permanecer lá. Eu sou inerte. Não posso tomar a frente, tenho que esperar que algum órgão tome a iniciativa”.

Secretaria da Saúde

Em nota, a Secretaria de Estado da Saúde, à qual o Pinel está subordinado, disse que “obedece decisão do Poder Judiciário para manter a paciente em sua enfermaria de agudos”.

A secretaria e o hospital afirmam que o local indicado pela Justiça não é adequado, uma vez que o transtorno de conduta da paciente não justifica, sob o ponto de vista clínico, uma internação psiquiátrica.

“Tanto que o hospital vem trabalhando no sentido de procurar alternativas de moradia e tratamento da paciente em outros locais, como abrigos e Caps [Centros de Atenção Psicossocial].”

Prefeitura

A Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social disse por intermédio de sua assessoria de imprensa que a menina 23225, até 2005, estava acolhida em um abrigo. Manifestava “comportamento por vezes agressivo”. “Seu atendimento passou a ser isolado, em uma edícula, acompanhada de uma mãe social.”

Segundo a assessoria, a secretaria vem buscando desde 2009 atuar “com o Hospital Pinel, a Vara da Infância da Lapa e o Centro de Atenção Psicossocial Infantil”, em busca de “um atendimento integral à adolescente”. “A secretaria e o abrigo R. conseguiram abrir uma vaga para a menina e já se iniciou o processo de transferência do Hospital Pinel para um abrigo.”


Fonte: Folha de S. Paulo

sexta-feira, 26 de março de 2010

Pegue uma TV coloque a cor no máximo depois coloque a cor na saturaçao minima. É... Isso é ser bipolar. Mas, nestes atos, repare bem se tem ou nao sentido um mar cinza, um ceu cinza, uma flor cinza, uma pessoa cinza...
ZUZU FONTES

quinta-feira, 25 de março de 2010

Mais de 400 pacientes sofrem em hospital psiquiátrico em Cachoeiro (Dezembro de 2009)

CRP-16 encabeça trabalhos para mudar realidade dos atendidos pelo SUS na Clínica Santa Isabel, onde há apenas uma psicóloga atuando

O Conselho Regional de Psicologia da 16ª Região/ES (CRP-16), juntamente com os conselhos de Medicina, de Enfermagem, de Fisioterapia e de Nutrição, além de dois representantes do Ministério Público do Espírito Santo (MPES), realizou uma vistoria em um hospital psiquiátrico em Cachoeiro de Itapemirim, Sul do Estado, no mês de dezembro de 2009.

Várias irregularidades foram encontradas na Clínica de Repouso Santa Isabel, que recebe repasse do SUS para tratar de mais de 460 pacientes portadores de transtornos mentais graves e dependentes químicos. O MPES já recebeu um relatório com as denúncias que apontam, entre outras questões de saúde, para abordagens que vão de encontro ao que preconiza a Reforma Psiquiátrica Brasileira.

De acordo com a conselheira do CRP-16 Jamily Fehlberg, que tem experiência na área de internação psiquiátrica, e que acompanhou a vistoria conjuntamente à técnica de Orientação e Fiscalização do Conselho, Martha Ferraz, a clínica apresenta problemas na sua estrutura, de recursos humanos, sem falar na insalubridade do local. “Foram detectadas péssimas condições estruturais, um ambiente insalubre e com parcas condições de higiene pessoal”, revelou. A conselheira ainda mostrou a carência por profissionais, sobretudo da Psicologia.

“Na realidade há muito poucos profissionais, técnicos de enfermagem, para os cuidados e segurança dos internados. Além disso, somente uma psicóloga é responsável pelo atendimento a 466 pacientes. Como ela pode dar conta de tanta demanda?”, questionou Jamily.

Denúncias
Há pelo menos quatro meses têm sido realizadas reuniões no CRP-16 e nos conselhos de Serviço Social e de Medicina, Fisioterapia e Nutrição para avaliar as denúncias de abandono, maus tratos e falta de segurança que afetam os pacientes da Clínica Santa Isabel.

E após a vistoria, a direção administrativa do hospital se manifestou dizendo que não há recursos suficientes para contratação de pessoal. Ela alega ainda que o repasse do SUS é muito pequeno para manutenção adequada da estrutura e para proporcionar um tratamento nos moldes da Reforma Psiquiátrica, prevista em lei há quase uma década no País.

Fórum
Para resolver a questão, o CRP-16 e os outros conselhos envolvidos estão formalizando um Fórum de Conselhos Profissionais Ligados à Saúde. “Nele serão discutidos os assuntos referentes aos serviços de saúde e o atendimento à população”, explicou a conselheira Jamily. Ela lembrou ainda que o grupo já produziu um relatório e o entregou ao MPES.

“Vamos também cobrar do governo estadual que ele assuma seu lugar de responsabilidade pela saúde do Estado, que reveja a questão da Santa Isabel”, acrescentou a conselheira. Jamily, porém, reconhece que há muito ainda a ser feito.

“Sabemos que essa é somente a ponta do iceberg da saúde mental em nosso País. Porque a Reforma Psiquiátrica começou a ser implantada e foram desfeitos os grandes hospitais que eram na verdade depósitos de gente”, analisou. Segundo ela, ainda não houve um política pública de saúde forte o bastante para que os serviços substitutivos possam garantir o atendimento de toda a população de usuários, evitando assim as internações como essas da Santa Isabel.

CRP-16 tem puxado os trabalhos
Para Jamily, a participação do CRP-16 está sendo muito bem aceita e tem sido condição para que os demais conselhos tenham a dimensão da subjetividade que deve ser parte do tratamento da loucura e do sofrimento psíquico, bem como para detectar a precariedade psíquica com a qual os pacientes são tratados na Clínica.

Além disso, o CRP-16 vem sediando as reuniões do grupo. E a novidade para o decorrer desse trabalho é a possível criação de um Convênio de Cooperação entre as entidades que realizaram a vistoria. O objetivo será trabalhar a questão da saúde mental e o dever do Estado em garantir esse direito ao usuário do SUS.

Clínica Santa Isabel
Localizada no bairro Amaral, em Cachoeiro de Itapemirim, no Sul do Estado, a Clínica Santa Isabel atende psicóticos e dependentes químicos pelo SUS. Ela é uma entidade, com fiz lucrativos, que presta serviço ao Sistema Único de Saúde nessa especialidade. É considerado um hospital de grande porte, com atualmente 466 internos. Além de possuir 17 leitos destinados à clientela particular que ficam separados do restante da clínica.
Postado por Kaamirã às Quinta-feira, Março 25, 2010

segunda-feira, 15 de março de 2010

Stela do Patrocínio

É dito: pelo chão você não pode ficar

Porque lugar da cabeça é na cabeça

Lugar de corpo é no corpo

Pelas paredes você também não pode

Pelas camas também você não vai poder ficar

Pelo espaço vazio você também não vai poder ficar

Porque lugar da cabeça é na cabeça

Lugar de corpo é no corpo

terça-feira, 2 de março de 2010

Louco Eu?

A visão da medicina e da sociedade sobre pacientes mentais evoluiu muito nos últimos anos. Mas uma pergunta continua sem resposta: qual é a linha que separa a lucidez da loucura?
por Bárbara Soalheiro
David Rosenhan resolveu fingir-se de louco. Em 1972, ele se dirigiu a um hospital psiquiátrico americano alegando escutar vozes que lhe diziam as palavras “oco” “vazio” e o som “tum-tum”. Essa foi a única mentira que contou. De resto, comportou-se de maneira calma e respondeu a perguntas sobre sua vida e seus relacionamentos sem mentir uma única vez sequer. Outros oito voluntários sãos fizeram a mesma coisa, em instituições diferentes. Todos, exceto um, foram diagnosticados com esquizofrenia e internados.

Assim que foram admitidos, os pacientes passaram a agir normalmente. Observavam a tudo e faziam anotações em suas cadernetas. No começo, as anotações eram feitas longe do olhar dos funcionários, mas logo eles perceberam que não havia necessidade de discrição. Médicos e enfermeiros passavam pouquíssimo tempo com os pacientes e nem ao menos respondiam às perguntas mais simples. “Apesar de seu show público de sanidade, nenhum deles foi reconhecido”, escreveu Rosenhan no artigo On Being Sane in Insane Places (“Sobre Ser São em Locais Insanos”), publicado na conceituada revista Science, em janeiro de 1973. Ironicamente, os pacientes reais duvidavam com freqüência da condição dos novos colegas. “Você não é louco. Você é um jornalista ou um professor checando o hospital”, disseram diversas vezes.

Os pacientes estavam certos. Rosenhan era mesmo um acadêmico e sua internação, assim como a dos outros voluntários, era parte de um estudo pioneiro para avaliar a capacidade médica de diagnosticar distúrbios mentais. Hoje, ele é professor emérito das Faculdades de Psicologia e Direito da Universidade de Stanford.

Os falsos pacientes foram mantidos nos hospitais por períodos que variaram de 7 a 52 dias. Foram medicados (assim como boa parte dos internados reais, eles escondiam as pílulas sob a língua e as jogavam fora quando já não estavam mais na presença dos funcionários) e liberados com o diagnóstico de “esquizofrenia em remissão”, uma expressão médica usada para dizer que o paciente está livre dos sintomas.

Já de volta à sua identidade real, os pesquisadores requisitaram os arquivos sobre suas estadas nos hospitais. Em nenhum dos documentos havia qualquer menção à desconfiança de que estivessem mentindo ou que aparentassem não ser esquizofrênicos. A conclusão que David Rosenhan escreveu para o estudo desconcertou a psiquiatria americana. “Agora sabemos que somos incapazes de distinguir a insanidade da sanidade.”

LOUCURA EXISTE!

A conclusão de Rosenhan não era de todo uma novidade para a comunidade médica. Desde a Segunda Guerra Mundial, quando a porcentagem de homens liberados pelo exército por razões psicológicas variava de 20% a 60% entre estados, os americanos começaram a desconfiar de que seus diagnósticos tinham a precisão científica de uma cartomante. Para piorar, pesquisas começaram a mostrar que os Estados Unidos estavam diagnosticando um número muito maior de esquizofrênicos do que a Inglaterra. Seria o chá das cinco um remédio tão eficiente contra distúrbios mentais?

O estudo de Rosenhan deixava claro que o problema não eram as mentes dos ingleses e sim a maneira pouco eficiente de se fazer diagnósticos nos Estados Unidos. O instrumento usado por médicos e psiquiatras nessa tarefa era (e continua sendo) o Manual de Diagnóstico e Estatística dos Distúrbios Mentais (DSM, na sigla em inglês). O manual é reconhecido pela Associação Americana de Psiquiatria como a lista oficial de doenças mentais e é usado em hospitais e consultórios psiquiátricos do mundo inteiro.

Mas em 1973, o DSM ainda estava em sua segunda versão e os diagnósticos dados usando o livro de cem páginas variavam de forma absurda. Um mesmo paciente poderia ser descrito como histérico ou hipocondríaco, dependendo apenas de quem o avaliasse. E essa era uma das questões centrais do estudo de Rosenhan. “Será que as características que levam alguém a ser tachado de louco estão mesmo no paciente ou estão no ambiente e contexto em que o observador está inserido?”, escreveu ele em On Being Sane....

Essa pergunta faz ainda mais sentido quando comparamos os diferentes conceitos de loucura ao longo da história. Homens cujo estado de espírito difere drasticamente da média dos demais existem desde as épocas mais remotas – assim como tratamentos para curá-los. No entanto, por séculos, acreditava-se que a loucura era causada pela vontade dos deuses sendo, portanto, parte do destino de alguns. Fosse para punir ou até mesmo para recompensar – o Alcorão conta como Maomé achava veneráveis os loucos, já que tinham sido abençoados com loucura por Alá, que lhes tirava o juízo para que não pecassem – fato é que a loucura estava associada com a idéia de destino e participava da vida social assim como outras formas de percepção da realidade. “A definição de loucura em termos de ‘doença’ é uma operação recente na história da civilização ocidental”, escreveu João Frayze-Pereira, no livro O que é a loucura.

E mesmo vista como doença mental, a relação que se desenvolve com ela pode variar muito de cultura para cultura. Na Malásia, é comum mulheres mais velhas apresentarem um quadro psíquico conhecido como latah. É uma condição que faz com que a pessoa fique completamente alterada por um bom tempo, gritando e falando palavrões. Mas, no lugar de serem excluídas socialmente, essas pessoas são celebradas e costumam animar reuniões sociais com seu pequeno show de excentricidades.

Os próprios exemplos do que configura um estado alterado de consciência mudam radicalmente de acordo com o lugar, o tempo ou a cultura. Só para citar um exemplo, em 1958, um jovem negro americano foi levado a um hospital psiquiátrico depois de se inscrever para a Universidade do Mississippi. Qualquer negro que pensasse que pudesse estudar ali estava, obviamente, louco.

Ora, se a loucura – suas razões, interpretações e definições – pode mudar tão drasticamente diante de conceitos como geografia e tempo, como é possível afirmar que a loucura seja um distúrbio da mente e não apenas um desvio social? Será que Thomas Szars, um dos líderes do movimento antipsiquiatria no mundo, está certo quando diz que a psiquiatria não passa de uma polícia moral disposta a impedir pensamentos e condutas que não são agradáveis à sociedade?

A CIÊNCIA FALA

Hoje, a ciência faz uma distinção clara entre loucura e doenças mentais. “Talvez pareça desconcertante, mas os psiquiatras não se utilizam de termos como louco ou loucura e nenhuma das atuais classificações dos distúrbios psiquiátricos os inclui”, diz Sérgio Bettarello, do Instituto de Psiquiatria da USP. Os absurdos classificatórios de alguns anos atrás, como chamar uma mulher que se apaixona por um homem mais novo de louca, minguaram. “A loucura como estado de ampliação da existência é positiva. Você costuma sair enriquecido depois de uma experiência dessas. Já as doenças mentais são o oposto disso. No lugar de liberdade, elas te dão uma restrição da autonomia”, diz Bettarello.

A loucura que a psiquiatria trata é chamada de psicose, uma distorção do pensamento e do senso de realidade, que pode prejudicar drasticamente a vida do paciente. De fato, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, cinco entre as dez maiores causas de incapacidade no mundo são problemas mentais. O ranking é feito levando em conta dois quesitos: número de anos de vida e número de anos produtivos que a doença rouba do paciente. E, no caso das doenças mentais, há pouca concorrência em relação ao segundo quesito. “Seja pelo estigma que carrega, seja pelos transtornos que traz à rotina da pessoa, distúrbios mentais podem levar a péssima qualidade de vida”, diz o psiquiatra Roberto Tynakori. Qualquer pessoa com depressão crônica ou com um parente próximo que sofra de esquizofrenia sabe bem disso.

Quando surgiu, no século 18, a psiquiatria era vista como uma prática menor, sem a objetividade necessária às coisas tratadas pela ciência. Se a própria definição de seu objeto de estudo era nebulosa, como seria possível propor diagnósticos e tratamentos confiáveis? A busca desesperada por explicações lógicas e maneiras científicas de tratar os males da mente produziu algumas das práticas mais macabras na história da ciência (veja quadros abaixo) e não teve muito sucesso até a metade do século 20. Somente quando o neurocientista português Egas Moniz ganhou o Prêmio Nobel de Medicina pela invenção da lobotomia – uma cirurgia de danificação dos lobos frontais que é vista hoje como um dos exemplos mais bem-acabados da crueldade enfrentada em hospitais psiquiátricos – é que a psiquiatria viu-se, finalmente, aceita entre os homens da ciência. “Pode-se dizer que uma nova psiquiatria nasceu em 1935 quando Moniz deu o primeiro passo corajoso em direção ao campo da psicocirurgia”, escreveram os editores do New England Journal of Medicine em 1949. A psiquiatria havia, finalmente conquistado a credencial necessária para vestir o jaleco da medicina.

A segunda revolução nos tratamentos veio algum tempo depois, com a criação dos remédios antipsicóticos. Agora era possível tratar pacientes mentais dispensando a internação – uma condição fundamental para a revolução que teria início na década de 1960: o fim dos manicômios. A invenção facilitou a vida de muitos pacientes, piorou a de outros (os efeitos colaterais costumam ser graves) e trouxe muito dinheiro para a indústria farmacêutica (só para citar um exemplo, o antipsicótico olanzapine é o terceiro remédio mais vendido do mundo).

Mas o avanço nos tratamentos não resolvia a questão mais fundamental no processo: a precisão do diagnóstico. Há casos muito claros de perturbação mental, mas há outros em que é quase impossível determinar a linha que separa a simples imaginação humana da falta de lucidez restritiva típica das manias ou psicoses. David Rosenhan é uma prova disso.

Quando seu artigo foi publicado, Rosenhan recebeu críticas duras de diversos psiquiatras. Muitos o acusaram de não ser suficientemente científico, afinal era impossível provar como os pacientes realmente haviam se comportado (Rosenhan nunca divulgou o nome das instituições em que foram internados já que, dizia, não era sua intenção atacar pessoalmente esse ou aquele hospital). Um dos grandes críticos do trabalho dele foi Robert Spitzer, que na época trabalhava no Centro de Pesquisa e Treinamento Psicanalíticos da Universidade Columbia, nos Estados Unidos. Spitzer acredita que o fato de terem sido liberados com o diagnóstico de esquizofrenia em remissão é uma prova de que os funcionários do hospital conseguiram sim distinguir a sanidade da insanidade. Ainda assim, Spitzer resolveu revisar o Manual de Diagnóstico vigente e logo percebeu que havia pouquíssimas provas científicas embasando os diagnósticos. Ele montou grupos de pesquisadores e foi atrás de pesquisas e evidências. Em 1974, lançou a terceira edição do DSM, um calhamaço de 480 páginas e quase 300 diagnósticos catalogados.

OS LOUCOS FALAM

Durante sua temporada no hospital psiquiátrico, David Rosenhan percebeu que “uma vez marcado como esquizofrênico, não há nada que o paciente possa fazer para superar essa etiqueta. A etiqueta muda completamente a percepção que os outros têm dele e de seu comportamento”. Características normais, relatadas pelos pseudopacientes, foram interpretadas pelos enfermeiros como sinais da doença. A aproximação de um dos pais durante a adolescência, por exemplo, transformou-se em “ausência de estabilidade emocional” no relatório médico. E a irritação dos pacientes com a falta de atenção dos funcionários era vista como mais um sintoma da doença e não como reação aos maus tratos.

Ao lutar por seu lugar entre as práticas da ciência, a psiquiatria moderna havia instituído uma relação com os doentes que ficou famosa na definição do filósofo francês Michel Foucault: o monólogo da razão sobre a loucura. A idéia de que pacientes mentais eram desprovidos de razão e, portanto, não tinham direito a opinar sobre sua vida e tratamento legitimou vários abusos da medicina. Esterilização forçada e proibição de casar são só dois exemplos do que era visto como verdade incontestável quando o assunto era a vida dos doentes mentais. Um dos jornais mais respeitados do mundo, The New York Times, escreveu em seu editorial, em 1923, que “é uma certeza que o casamento entre dois doentes mentais tem de ser proibido”.

A obra de Foucault transformou-se em inspiração para os movimentos que começavam a tomar corpo na década de 1960: a luta antimanicomial e a antipsiquiatria. Em todo o mundo, ex-pacientes de hospitais psiquiátricos começaram a se organizar contra os abusos da razão sobre a loucura. O objetivo era um só: dar “ao indivíduo a tarefa e o direito de realizar sua loucura”, como escreveu Foucault.

Mas até que ponto vai a liberdade do indivíduo de realizar sua loucura? Para a maior parte dos governos, o limite é o risco de morte. Foi exatamente por isso que Rosenhan e seus companheiros foram internados. Naquela época, acreditava-se que ouvir uma voz dizendo palavras como “oco” e “vazio” era um sinal de que, inconscientemente, aquela pessoa acreditava que sua vida era oca, que não valia a pena. Dali para o suicídio, seria um pulo, acreditavam os médicos. Mas nem todo mundo concorda que o tratamento deve ser obrigatório quando há risco de morte. “Qualquer tratamento forçado é ilegal”, diz David Oaks, ex-paciente de hospitais psiquiátricos e fundador da organização Mind Freedom, uma organização que tem como um de seus lemas “psiquiatria cura discórdia, não doença”.

O fato de o tratamento ser imperativo quando existe risco de morte impede que, para algumas doenças, estudos sejam feitos usando dois grupos de pacientes: um medicado e outro não medicado. Sem provas de que o medicamento funciona melhor do que nenhum tratamento, a psiquiatria vira alvo de diversas críticas, principalmente no que diz respeito aos efeitos colaterais de seus medicamentos. “O que se espera da psiquiatria é que ela seja 100% eficaz e que não tenha nenhum efeito colateral. Obviamente, ela não atinge esse objetivo”, diz Bettarello. Mas nem todo mundo diz esperar 100% de eficácia. “No topo da minha lista de desejos está um simples pedido de honestidade”, escreveu o jornalista médico Robert Whitaker no livro Mad in America (“Louco na América”, sem edição em português). O livro faz um balanço das pesquisas sobre tratamentos psiquiátricos nos últimos anos e mostra como não existem evidências concretas para a maior parte das declarações de eficácia feitas pela indústria farmacêutica e, conseqüentemente, dentro dos consultórios psiquiátricos.

Honestidade também é o que pedem os participantes do Mad Pride (Orgulho Louco), um movimento de combate ao preconceito contra pacientes psiquiátricos e de celebração da cultura Louca (com L maiúsculo mesmo). Uma das ações do movimento é a passeata anual de loucos, inspirada nas paradas gays que já existem em diversas cidades do mundo. A idéia é desestigmatizar os doentes mentais e mostrar que existe sim vida normal entre eles.

No Brasil, o movimento da luta antimanicomial cresceu nos anos 80 e, inspirado em projetos bem-sucedidos dos Estados Unidos e Europa, idealizou centros de apoio a pacientes mentais organizados e administrados pelos próprios usuários, em conjunto com médicos e seus familiares. “A inserção não é algo que você concede a alguém. Ela precisa ser conquistada. O doente faz parte da sociedade e a relação que ele tem com sua doença é a mesma que a sociedade propõe”, diz o psiquiatra Tykanori, um dos expoentes do movimento no Brasil. A luta antimanicomial transformou o atendimento público de saúde mental com a criação dos Caps, Centros de Apoio Psicossocial, e abriu caminho para a aprovação, em 2001, da lei que prevê a extinção progressiva dos manicômios no Brasil. E incluiu efetivamente os pacientes em sua batalha. “Nós entendemos que podemos colaborar na construção teórica de um saber e nas práticas de reabilitação psicossocial”, escreveu a usuária Graça Fernandes no artigo “O avesso da vida. Como pode a assistência se transformar?”. Os pacientes, finalmente, rompiam o monólogo da razão e estabeleciam um diálogo sobre sua própria condição. “A sociedade percebeu que a participação dos doentes mentais enriquece-nos muito mais que o seu isolamento”, diz Tykanori.

O QUE É NORMAL?

Com os avanços da ciência, a baixa popularidade dos manicômios e a força dos movimentos organizados contra abusos psiquiátricos, é de se pensar que, se o experimento de Rosenhan fosse realizado nos dias de hoje, ele teria um resultado bem diferente do que o internamento imediato dos anos 70. Certo? Era isso que a psicóloga americana Lauren Slater queria descobrir quando decidiu procurar, em janeiro de 2004, oito prontos-socorros de saúde mental e afirmar que vinha ouvindo o som “tum-tum”. Ela conta que, exatamente como Rosenhan e seus colegas, a voz foi o único sintoma falso que apresentou.

Slater não foi tachada de esquizofrênica nem internada. No entanto, nos oito hospitais em que esteve, foi diagnosticada com depressão e recebeu pílulas de risperidone, um antipsicótico bem popular que, na época, era tido como um remédio leve (seis meses depois da experiência, o fabricante divulgou uma nota confessando ter minimizado os riscos do uso do medicamento nos materiais promocionais enviados a médicos). “Eu acredito que a ânsia de prescrever remédios dirige hoje o diagnóstico da mesma forma que a necessidade de enquadrar o paciente como doente fazia nos anos 70”, escreveu Lauren no artigo Into the cuckoo·s nest (“Dentro do ninho do louco” uma referência a One Flew Over the Cuckoos’s Nest, o título em inglês do filme “Um Estranho no Ninho”), publicado no jornal britânico The Guardian e, mais tarde, no livro Mente e Cérebro, que acaba de ser lançado no Brasil.

O médico Spitzer soube, pela própria Slater, do resultado do experimento. “Acho que médicos simplesmente não gostam de dizer eu não sei”, disse a ela pelo telefone, depois de um longo silêncio. A recusa em confessar ignorância não é uma particularidade da psiquiatria. “O problema é que o objeto dessa ciência somos nós mesmos e nossa normalidade. Ou seja, nossa natureza básica”, escreveu Lawrence Osbourne, no livro American normal: the hidden world of Asperger syndrome (“Normalidade americana: o mundo secreto da síndrome de Asperger”, não lançado no Brasil), que reúne informações sobre Asperger, uma doença cada vez mais comum nos Estados Unidos.

A síndrome de Asperger foi incluída no DSM-IV – a edição mais recente do manual, de 1994, com 884 páginas e 365 diagnósticos. Como o manual descreve os distúrbios a partir de seus sintomas, lista uma variedade imensa de emoções humanas, condutas e regras de relacionamento como desvios patológicos. Sentir-se angustiado depois do fim de um relacionamento, comer muito, comer pouco ou comportar-se mal na sala de aula são alguns exemplos de ações que aparecem na lista. É quase impossível não se reconhecer ali e se perguntar: mas, afinal, o que é normal?

Das duas uma: ou estamos mesmo ficando menos equilibrados – o que poderia ser explicado pelo ritmo e modos de vida do mundo moderno – ou nos viciamos em diagnósticos psiquiátricos. “Estamos transformando todo comportamento humano em patologia. Fazendo isso, criamos um sistema verdadeiramente louco, em que todos estão doentes”, diz o psiquiatra Mel Levine, diretor do Centro Clínico de Estudos sobre Desenvolvimento e Aprendizado, da Univerdade da Carolina do Norte. Nos Estados Unidos, o uso de medicamentos psiquiátricos está atingindo níveis altíssimos. Crianças de 2 anos recebem prescrição de remédios cujos efeitos a longo prazo são completamente desconhecidos. “É muito mais fácil encaixar a criança difícil em uma categoria e medicá-la, do que deixar que ela desenvolva naturalmente suas habilidades sociais”, diz Levine.

E, como quase tudo na vida, o mais fácil nem sempre é o melhor. “Mais do que tudo, o aumento de diagnósticos psiquiátricos representa um aumento gradual do preconceito em nossa cultura”, diz o psicólogo Richard DeGrandpre. Talvez seja a hora de começarmos a lidar melhor com as nossas próprias neuroses, manias e loucuras. E, sobretudo, aceitarmos nossas diferenças.
Fonte: Editora Abril - Revista Superinteressante