O conceito de infância na pós modernidade foi modificado. Ser criança compreende, atualmente, um indivíduo letárgico de movimentos concisos, diante de uma televisão, de um videogame ou de uma tela de computador, chegando a "aborrecência" sem se fazer notar.
Ser bom filho é estar ajustado,ter boas notas,organização, pouca atividade motora (exceto nas aulas específicas: judô, natação, aulas de futebol e ballet,etc) e linguagem monossilábica - Quero - um computador novo, celular,Ipad e toda a parafernália do silenciar.
Mas há um grupo de crianças que não pára,levantam-se da cadeira na escola, não prestam atenção,não acompanham as atividades propostas, suas notas e desempenho escolar é sofrível e seu comportamento não se encaixa ao meio escolar e familiar. Elas são encaminhadas aos especialistas que deve dar conta dessa infância inquieta.
Este comportamento fora da norma é o seu desejo "inusitado" de ralar os joelhos, derrubar a tinta na roupa, correr sentindo o vento no rosto, brigar com o coleguinha na rua,rir e falar a valer, juntar insetos numa caixa de papelão, fazer o que lhe dá na telha,encher os pais de perguntas e reinvindicar sua atenção.
A escola para eles,é algo entre chato e insuportável, mas gostam das aulas de educação física, de artes, dos companheiros de classe e do lanche.O restante não lhes diz respeito, porque não é da ordem destas crianças aprender sem experimentar.
Mas estes comportamentos tornaram-se uma patologia, com direito a nosografia e medicação, são os TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade).
No final de 2010, no "I Seminário Internacional a Educação Medicalizada: Dislexia, TDAH e Outros Supostos Transtornos", realizado em São Paulo, os palestrantes foram taxativos: Há um aumento alarmante de diagnósticos e medicalização da infância, algo entre 10 a 20%, tomando uma proporção epidêmica de incapacidades jamais comprovadas.
A fala mais contundente foi da Professora Titular de Pediatria da Unicamp Maria Aparecida Moysés, que discorreu sobre os efeitos do metilfenidato, uma substância que afeta todos os sistemas do organismo. "Em qualquer livro de farmacologia, o que se divulga como efeitos terapêuticos dessa substância é caracterizado como um sinal de toxicidade." Segundo ela, a obediência obtida com o medicamento é o que, na farmacologia, é conhecida como "efeito zumbi", o que demanda a suspensão da substância.*
Ser-infância tornou-se um transtorno e nossas crianças estão contidas em camisas de força medicamentosas, emprestando seus corpos semi-mortos aos apelos de uma sociedade de normas técnicas e eficácia.
Ana Lúcia da Silva
*Dados do Jornal Psi- Conselho Regional de Psicologia SP